INDIO
Nasci índio...
Comi em prato de barro
E capemba de palmeiras
Cacei bicho para me alimentar
Assei mandioca no chão
Corri com medo de carro
E fugi do papa figo
Fui analfabeto até aos doze anos
Fui xingado de burro
Quase a vida toda
Hoje não sou mais índio
Como em prataria inglesa
E talheres de prata
Não fujo com medo de nada mais.
Sou conceituado pelos brancos
Como um sábio
Corro dentro de carros desejáveis.
Confesso, que não mudei nada, continuo o mesmo índio
Bate no meu peito o desejo
De voltar para o mato
De pegar uma capemba cheia de feijão com coco
De devorá-la com as mãos
E depois arrotar e dizer:
- Diacho de feijão bom.
E ninguém para me proibir de ser eu mesmo
Ainda acredito
Que a coisa mais bonita
É o ser natural.