INDIO

Nasci índio...

Comi em prato de barro

E capemba de palmeiras

Cacei bicho para me alimentar

Assei mandioca no chão

Corri com medo de carro

E fugi do papa figo

Fui analfabeto até aos doze anos

Fui xingado de burro

Quase a vida toda

Hoje não sou mais índio

Como em prataria inglesa

E talheres de prata

Não fujo com medo de nada mais.

Sou conceituado pelos brancos

Como um sábio

Corro dentro de carros desejáveis.

Confesso, que não mudei nada, continuo o mesmo índio

Bate no meu peito o desejo

De voltar para o mato

De pegar uma capemba cheia de feijão com coco

De devorá-la com as mãos

E depois arrotar e dizer:

- Diacho de feijão bom.

E ninguém para me proibir de ser eu mesmo

Ainda acredito

Que a coisa mais bonita

É o ser natural.

queiroz ferreira
Enviado por queiroz ferreira em 27/12/2011
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