Desabafando: "Disciplina é liberdade".

Não é agora que tenho reparado na força com a qual sufoca, aperta e intimida, qualquer liberdade. A predisposta e clara certeza de alguma coisa.

A possibilidade de realizar, pela ausência de neblina (incerteza) em que há na segurança de afirmar, deve retirar o contentamento de qualquer indivíduo ante a realização da coisa suposta. Está-se diante de uma celeuma intransversal. Ainda empiricamente, afirma-se como o homem é perdido e dessassoegado, firmemente entediado, quando perfeitamente livre.

Siga o exercício abaixo.

Imagine-se rico; agora, desta riqueza financeira que o liberta para as proposições a todos os tipos de acontecimentos-acontecíveis; figure a sí próprio, diante do leque das probabilidades deste mundo. Podendo viajar, aonde for; podendo frequentar, o que quiser; podendo comer, o que mais prazeroso for; assistir ao show da banda que melhor lhe aprouver; ter o prazer com a mais cara das senhoras; navegar pra onde desejar, TUDO ISTO, SUPERFICIALMENTE A APARENTAR, NO MESMO INTANTE! E feliz, estaria? E contente, se contentaria? A luz ofusca! Não ofuscaria se a imaginação não fosse tão arrogante e pedante... Mas ela é.

E toma a flauta do Palhaço corrupto, se entregando;

E grava o suicídio que é rir e blasfemar, esperneando;

E suicindando-se, consequinte, é gastar-se, realizando.

E rasga lirismos antagônicos quando cita Goeth, Wilde ou Fernando;

E parte cambaleando entre o sim, ou o não;

e parte sugando o que pode ser ou o que ainda é;

Segue driblando, supondo que nunca, ou senão;

mente afirmando que tem a paciência, mas é Tomé.

(É por isso que o Catolicismo e o Evangelho, latu sensu, são tão bem aceitos. São felizes os crentes que choram, arrependendo-se, do que não cometeram. Este "negócio de" saber o que é o certo e errado, o que acaba os condicionando, fazem deles renomados soberanos à medida em que obtêm prazer quando obstruem os limites do Pecado. O triunfo é conquistado por enfretarem as máculas que acometem o pequeno martírio deste Mundinho vicioso e psicodélico em que habitam.)

A certeza é fatal. O que me encanta, é a incerteza.

A neblina torna as coisas maravilhosas. Quase tudo que é mensurável, não é digno de fé. Percebe? Diga que sim...

No momento em que o sujeito organiza-se, com represálias de crença, ou não, cria para sí estígmas dentre o certo, e o errado. Com esta disciplina, macula a felicidade de agora, para com a calmaria de depois. É essencial ao regular-respirar-aspirante de qualquer indivíduo, ansioso, ou não.

Regre-se e ornamente o seu tempo com a mais cara das pedrarias.

Dedique-se à ignorância que é o não poder, e o não querer, ser consumido pelo Tédio. Adquira para si padrões estereopados, pois reger-se alinado, aceitando o tudo, é regozijar-se feliz dentro de sua estrutura.

Alexandre Bonilha
Enviado por Alexandre Bonilha em 26/12/2011
Reeditado em 05/02/2012
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