Mudanças
Montes de terra desenhados milimetricamente ao longo do caminho. Simétricos. O sol fraco se infiltrando em meus olhos e a coberta que estava antes no banco agora estava me cobrindo. Começava a fazer frio.
Eu, a partir deste momento, estava prestes mudar de vida para o sempre. Mudança nem sempre é bom “você vai voltar com uma bagagem cheia de histórias” Quem sabe se eu vou voltar? Quem sabe se vai ser tão bom assim como vocês dizem? Ninguém.
A viagem não era muito longa, mas desgastante; o carro estava com o porta-malas literalmente explodindo, e, como o caminhão de mudança só chegaria daqui 10 dias para ser carregado, daqui uns nove dias mamãe ia ter que voltar pra São Paulo. E eu não poderia ir junto. Aula.
Essa maldita transferência saiu na hora errada, eu estava amando os colegas da nova escola. Amanhã é segunda e já tem aula, e eu estou me mudando para Curitiba. Pleno Julho. Devo admitir que tenha medo, a menina do interior que vai se mudar pra cidade grande, uma capital.
Já fui pra Curitiba uma vez, as pessoas tão elegantes e chiques. Imagino como será na escola, eu, nem fazendo idéia de como eles se vestem, como falam, como agem, como sentem. Nervosismo se aflorando pelos meus poros.
Não estou preparada pra isso tudo. E se não gostarem de mim? E se der tudo errado e – de novo – eu ser a nerd esquisita?
Ao som de Kelly Clarkson em Breakaway senti meus olhos se encherem de lágrimas. O que é isso ? Você foi sempre tão confiante em si mesma e agora está chorando por medo de não gostarem de você? Sim, é isso. Na mosca.
Não é tão fácil quanto todo mundo pensa, pegar as malas e ir embora. Nesses últimos dias tenho chorado muito, querendo que tudo resolva, mas eu já devia ter entendido que lágrimas não me servem de nada. Não vão fazer eu me sentir melhor, nem fazer as coisas melhorarem.
Vou estudar no período da tarde, por ser mais barato aos meus pais. Também devo pensar em como a mãe de estar sofrendo, abandonou seu emprego público por causa desta mudança.
Tudo por culpa do meu irmão, que andava tendo problemas na escola. Levamo-lo numa psicóloga e ela disse que ele estava assim por falta do pai. E dois dias depois saiu o resultado: a maldita da transferência. E agora estou eu aqui, enfurnada num carro mal escutando o que meus pais dizem a mim, pois estou com medo de como será o amanhã.