NEYMAR E A BREVIDADE DOS NOSSOS MITOS "VIVOS"

Ultimamente não se falava noutro assunto e as conversas pelos quatro cantos do Brasil eram vozes uníssonas a idolatrar o nosso mais recente ídolo desportivo, um endeusado ser, alguém acima de qualquer suspeita de falha técnica, imbatível, o garoto do famoso topete que dita a moda e os sonhos de todas as cabeças adolescentes, o mais recente criado ídolo Neymar, a então expressão máxima de todos os mitos mais aplaudidos do mundo desportivo, mais precisamente do futebol brasileiro.

O anúncio do pagamento de três milhões de reais mensais ao jogador, menino ídolo do Santos Futebol Clube, parecia ressuscitar os tempos de glória do Peixe, que até hoje tem o seu trono ocupado pelo Rei Pelé, desportista mundialmente tido como o atleta do século passado.

As arquibancadas do Japão estavam prontas e o mundo todo voltava seus olhos à decisão do campeonato mundial interclubes cujo vencedor se coroaria como melhor clube do mundo.

Neymar prometia tudo que mais precisamos: acreditar em nós mesmos.

O Santos apostou todas as fichas, o Brasil acreditou porque sempre é mister que acreditemos. A nós nos é tão urgente acreditar como respirar!

Se há uma Nação que urgentemente precisa dum mito vivo somos nós!Nem que seja alguém ressuscitado dos nossos tantos funerais que jazem esquecidos pela nossa história.

Então, torcemos independentemente das nossas camisas de clubes do coração porque ali o Brasil era supremacia a vestir o seu verde- amarelo nos meninos da Vila Belmiro.

Foi assim que mordemos os lábios, saltamos das cadeiras, xingamos, rogamos, suplicamos, até que tomamos o primeiro gol do Barça. Era do Messi.

E diante de tanta festa brasileira prévia, aquela sempre advinda das nossas tantas construções neuróticas frente ao tamanho da nossa ansiedade social, tomamos o segundo gol, inacreditavelmente seguidos do terceiro e ainda dum quarto. Agora já não torcíamos para sermos o melhor do mundo, ali nos bastaria apenas um gol de honra, para que não nos sentíssemos tão pior...torcíamos por uma migalha apenas, um gol que não veio, como tantos que não vieram depois de tanta euforia mal avaliada, mal construída.

Inerte, apático, recuado, paralisado, algo moribundo, o Santos sequer conseguiu tocar a bola.

Neymar, o menino ídolo invencível, parecia ter derretido em campo como um castelo de areia construído no vento.

E sem perdão porque é dífícil perdoar a vitória tão certa que não veio.

Aquilo não poderia ser verdade. Quem responderia por tamanha frustração? Quem seria o culpado? Quem nele apostou ou a verdade consciente e hipertrofiada que o desbancou?

Nem o pobre garoto imaginaria a ingratidão que tão efusivamente o esperava. Pagou por todos os nossos patos devedores.

O episódio é deveras figurativo porque nos mostra o quanto construímos ídolos fantasiosos, rumos heróicos desprovidos de alicerces, ingênuas ilusões que cobrem nossos nublados sóis com as peneiras das nossas necessidades mais tristes e urgentes.

São muitos os nossos mitos vivos tão frágeis quanto o episódio Neymar, a quem noventa minutos duma luta em campo colocaram em xeque uma fantasia tão inconsequentemente retroalimentada de mito imbatível.

Porque mitos não existem, tampouco homens infalíveis.

Dizem por aí que um país rico é um país sem pobreza.

Paupérrima nação a que equivocadamente necessita de mitos efêmeros para se sentir rica.

Todavia, a nossa pior pobreza é a falta total de auto- estima, aquela que só se implementa com a agregação de valores sociais verdadeiros, para que os demais valores individuais deles sejam imediata consequência.

Lanço aqui o âmago do meu pensamento.