Um mais um? Não sei.
Não, eu não entendo mesmo. Por favor, pare de me fazer essas perguntas constantes, não sei como posso lhe responder. Eu sempre pensei que esse tipo de coisa fosse fácil. Há um tempo, aprendi que um mais um eram dois, e fim de papo. Passei anos e anos crendo nisso, e estava tudo bem para mim. Ninguém nunca tinha questionado essa lei matemática. Ninguém nunca tinha tentado desafiar a matéria mais odiada da escola dizendo que um e um eram três, quatro, cinco. Um e um sempre foram dois.
E então, andando por ruas curvas, com passos tortos, trombei com você. E percebi, instantaneamente, que a soma de um e um continua sendo um. Complicado, eu sei. Mas, menino, tudo faz sentido quando somos colocados lado a lado. Somos partes de um só. Duas peças de um quebra-cabeça perdido por aí. O côncavo e o convexo, como costumam dizer.
Diga-me: você já brincou de quebra-cabeça? Aquelas pequenas pecinhas que se juntam e que, no final, formam uma imagem só. Lembra-se? Uma delas sempre possui um espaço vazio, e a outra encaixa-se perfeitamente. Acho que sou uma dessas. E você me completa. Você me inteira. Sem você, sou como uma peça perdida por aí. Não formo imagem alguma. Sou desnecessária, inconsequente. Ando por ruas perdidas, em busca do caminho certo. Sou insuficiente, dispensável. Sou solitária, insignificante.
E você também possui um espaço aí, já viu? Talvez, quem sabe, eu me encaixe em você também. Poderíamos testar um dia desses. Você poderia marcar de vir aqui em casa num desses domingos. Eu poderia lhe preparar um chá de hortelã e bolachas. E tentaríamos encaixar minha peça à sua. Talvez, sirva. Talvez, eu caiba aí dentro. Talvez… Bom, não sei. É apenas uma suposição, claro.
Eu e você, menino, podemos ser um quebra-cabeça de duas peças, somente. E, então, formaríamos uma imagem só. Eu e você.