Sem importância
A vida às vezes cansa. Os dias às vezes parecem ser os mesmos. Os momentos parecem não ter importância. Nada parece ser capaz de me dar motivos para sorrir, para chorar, ou para simplesmente me importar. Tudo parece estar igual, menos eu. É estranho me olhar no espelho e saber quem sou, mas não saber o porquê de eu ser essa pessoa. Não saber o que me fez chegar aonde estou, o que me fez ser quem sou. Não saber o que me faz feliz até chorar, e o que me entristece quanto mais finjo sorrir. Já não me lembro como consegui essas cicatrizes. Não me lembro mais porque derramei aquelas lágrimas, nem me lembro o que foi capaz de me fazer sorrir. Não me lembro desse sangue espalhado no chão, nem dessas mentiras escritas neste caderno. Mas eu me lembro de qual caminho escolhi, só não me lembro porque eu o escolhi. O que me fez ter tanta certeza de que valeria a pena, se hoje já nem sei se tomei a decisão correta?
Claro, tudo está confuso. Uma palavra reconfortante agora não adiantaria nada. Um abraço faria eu me afastar. Se alguém dissesse que vai ficar tudo bem provavelmente ouviria palavrões. Eu sei quem eu sou. Eu sei do que eu gosto e do que eu não gosto. Mas ultimamente nada mais me agrada, tudo parece vencido e sem nenhum valor. Nem eu mesma sei se eu tenho algum valor, pois deixei de me valorizar. Esqueci de mim, da minha vida e das lembranças. Parei de me importar, e nem me importo com isso.
Mesmo sem me importar, estou cansada de tudo em minha volta. Das pessoas, da rotina, do dia a dia sem nenhum atrativo. É normal eu querer ficar sozinha, me trancar e esquecer do mundo. Porém, essa minha vontade de ficar completamente só está mais presente e me dominando mais. Prefiro ficar sozinha, fazendo minhas coisas do que conversando de inutilidades com pessoas que no momento acho inúteis. Não quero conversa, não quero que me perguntem se estou bem, pois eu nem saberia o que responder. Não sei dizer se estou bem ou não. Mas eu sei que a vontade de sumir deste lugar e encontrar outro que fizesse mais sentido está constante em meu pensamento. Porém, quando se está confusa, nem se sabe para onde ir. Só que no meu caso, qualquer lugar longe daqui já me satisfaria.
Além disso, as únicas coisas que me atraem ultimamente são aquelas que estão e que sempre estiveram longe de mim. São as coisas que posso ver e ouvir, mas não posso tocar e sentir. São coisas a quilômetros de distância, são sonhos que existem apenas na minha imaginação, sonhos do qual nenhum milagre poderiam fazê-los reais. Minha mente sempre cria confusões, mas dessa vez, ela me confundiu. Eu sei quem eu sou, mas não sei meu lugar no mundo. Se vou para norte ou sul, não importa. Mesmo assim não saberei onde é o meu lugar. Estou perdida em uma vida que sempre me pertenceu, mas que hoje, não faz nenhum sentido. Estou me transformado em uma pessoa que simplesmente não se importa, que está enjoada dessa vida, como se ela não fosse o bastante. Eu pensava que viver fosse bem melhor, que haveriam momentos felizes que superassem os tristes. Que haveria perdão ao invés de vingança. Que haveria mais amor do que ódio, mais carinho do que violência.
Apesar de estar tão confusa, há uma coisa da qual eu tenho certeza: preciso me encontrar. Ou até mesmo me reencontrar. Preciso descobrir quem eu fui e quem devo ser. Preciso descobrir qual é o meu caminho a ser seguido, qual o meu lugar no mundo. Qual é o meu lugar na vida das pessoas, e qual é o meu lugar minha própria vida. Tenho que me lembrar de tudo que já fiz na minha vida, e dentre tantas coisas, saber de quais eu me arrependo e quais eu faria de novo. Preciso me lembrar que ainda há muito espaço pela frente, e o tempo que já passou eu realmente desperdicei. O tempo e o espaço que estão diante dos meus olhos e a um passo de distância das minhas decisões não devem ser adiados ou passados em branco, como a maioria dos momentos da minha vida.
E mesmo que eu não me importe com as pessoas ao meu redor e com a rotina, eu devo pelo menos me importar comigo. Pois eu sou a única pessoa que pode fazer mudanças na minha vida. E quando isso acontecer, quando eu me encontrar e então encontrar todo o sentido da minha vida, irei ocupar um lugar no mundo muito grande, e não apenas um canto, que era onde eu estava acostumada a viver.