COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO

A velhice é uma visita inesperada.

Envelhecer não é um exercício de cada dia,

Ninguém treina como ficar velho,

Como desfalar,

Desver,

Desouvir,

Ao contrário de quando somos crianças,

Que treinamos a fala

O andar,

Fazemos isso repetidas vezes, até aprendermos,

E repetimos por um longo tempo na vida,

Até que começamos a desvalorizar,

Não damos mais a importância que dávamos

As pequenas grandes coisas,

Como um simples passo, fenomenal!

Nossos pais...

Ah! Eles vibravam quando isso acontecia!!!

A primeira palavra,

A primeira frase,

Eram gestos tão importantes naquele tempo,

Que produziam felicidades,

E foram ficando comuns, tão comuns,

Então passamos a ansiar por grandes coisas,

Que achamos ser grandes coisas.

E toda nossa vida entregamos, a correr atrás de tudo que sonhamos,

A melhor casa,

O melhor carro,

A melhor posição social,

E assim que conseguimos tudo,

Começamos a não poder mais usá-los,

Tudo que sonhei a meu dispor,

E não me serve.

E eu não sirvo.

Nem ao banco vou sozinho,

Porque é uma tarefa muito difícil,

Não posso correr na praia,

Nem sentir a areia entre meus dedos,

Como, quando eu era criança

Com meus pais.

Já não posso mais tomar um sorvete,

Nem esconder um chocolate embaixo do travesseiro, para comer à noite.

Eu queria tanto correr dentro de casa como antigamente!!

O mais incrível é que eu não pensei em nada disso.

Olho para meu corpo e vejo sinais,

Sinto sua decadência.

Mas, o meu cérebro ainda está tão jovem!

Que chego a brincar como criança.

Tão brilhante, tão bonito...

Como um raio de sol.

Anseia por coisas que meu corpo não permite.

Meus filhos que ensinei a andar.

Levam-me aos lugares que eu os proibia.

Que eu alimentei, põem comida na minha boca.

Que eu contei historias para dormirem,

Conversam comigo sobre coisas que não percebo mais.

Hoje meus filhos estão me recriando...

E eu continuo aprendendo tudo de novo.