Aos meus pais de fato
Deus, na Sua infinita misericórdia, concedeu-me a graça de ter mais de um pai e mais de uma mãe. Não se trata de exagero, mas, sim, de reconhecimento por tão grande amor a mim direcionado.
Sou filho de família simples, nascido em berço humilde.
Cresci em um lar um pouco “frio”, no que diz respeito à demonstração de sentimentos. Nunca fomos muito de nos abraçar ou dizer “te amo”. A coisa fluía mais na base da força e aos “trancos e barrancos”. Talvez, por isso, cresci, também, com certa dificuldade de demonstrar sentimentos, dar abraços ou coisa que o valha.
Mas, nessa vida, tudo muda. Todas as pessoas acabam transformando-se em pessoas melhores. A própria vida nos ensina, dando-nos muitos motivos para refletirmos acerca de nossas atitudes e, ao final, fazermos uma análise completa do que temos sido na vida das pessoas que nos cercam.
Voltando à minha criação, meu pai de direito, aquele que me registrou, desde que me entendo por gente, fazia uso de bebida alcoólica, e julgo que não foi nem por sua culpa, mas pelas próprias desgraças que a vida lhe reservou. Diz ele que foi vítima de uma maldição, que lhe jogara seu próprio pai, meu avô, que lhe disse certa vez, quando meu pai saía de casa, que, por mais que tivesse cem pernas, tal qual uma centopéia, jamais sairia do lugar e jamais conquistaria alguma coisa na vida. Maldição, ou não, a coisa não andou bem para o lado do meu pai e ele, de fato, nunca conquistou nada que fosse palpável, a não ser suas próprias frustrações.
Foram muitas as vezes em que meu pai saiu de casa e nos deixou para trás, eu e minha irmã, apenas com nossa mãe. Também foram muitas as vezes que ele retornou e minha mãe o aceitou. Nunca a culpei por isso, pois sabia das dificuldades pelas quais passávamos.
Minha mãe de fato e de direito, registrou-me e cuidou de mim, sempre foi uma guerreira. Durante muitos anos, trabalhou como costureira para nos sustentar. Acordava muito cedo e voltada ao final do dia, sempre com ar de cansada, mas trazendo algo para nos alimentar.
E a vida foi passando.
Em 1986, mais para o final do ano, conheci a pessoa que mudaria para o resto da vida a minha vida. Tão logo entrei no 1207A, ônibus que usava, na época, para ir para o colégio, e a vi sentada, na última fileira dos bancos do ônibus, não tive dúvidas de que a amaria para o resto da minha vida. E a minha falta de dúvidas se converteu em certeza e, até hoje, com ânimo para muitos outros anos, estamos juntos e construímos uma linda família.
Mas Deus ainda tinha coisas melhores para fazer em minha vida. Trouxe, com ela, minha esposa, na baciada dos seus parentes, seu pai e sua mãe. Nosso relacionamento não teve um começo fácil. Mas tinha que começar de alguma forma. Então, porque não começar exatamente como começou? E assim foi.
O pai da minha esposa, naquela época, não gostava muito de mim. A mãe sempre me foi simpática, mas, também, não sei o que permeava seus pensamentos, naquele momento.
E o tempo passou.
Ao longo de todos esses anos de convivência, aprendemos a nos gostar e a nos respeitar. E temos seguido a vida. Mas é preciso destacar a importância que os pais da minha esposa, meu sogro e minha sogra, sempre representaram em nossas vidas e, principalmente, na minha. Eles sempre foram os pais da minha esposa, mas foram meus sogros por algum tempo.
Hoje, vejo que a coisa mudou e agradeço a Deus por isso. Desenvolvemos um ótimo relacionamento, apenas manchado em razão de bipolaridade de minha parte. Meu sogro chega a dizer que sofro de transtorno tripolar e não bipolar, como é o normal. Ou seria anormal? Não importa. Certo é que sinto o quão importantes o meu sogro e a minha sogra foram, são e serão, para sempre, em minha vida e na vida da minha família.
Tenho certeza de que muitos lerão esse texto e dirão que há um certo ar de falsidade, mas não me importo. O importante é poder expressar sentimentos e fazê-lo com total liberdade. Platão já disse, certo dia, que “pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre idéias, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas”. Talvez, concorde com ele, talvez não. Mas fica, assim mesmo, a indicação da fala para aqueles que queiram falar de mim. Assim, saberão que são mesquinhos.
Voltando ao que interessa, gostaria, muito, nessa hora, de expressar meus sinceros sentimentos por estas duas pessoas, maravilhosas, que Deus colocou em minha vida.
Tantas vezes, socorreram-nos financeiramente. Outras, nos ensinando, aconselhando. Outras, dando-nos exemplo. Exemplos de honestidade, honradez, carinho, gratidão, moral, idoneidade e, acima de tudo, de pessoas que amam a família que têm.
Agradeço a Deus, de todo o meu coração, pela vida do Sr. Nilton e da Dona Letícia, queridos e amados sogro e sogra, meus pais de fato, que muito me ensinaram nessa vida, ajudando-me na formação do meu caráter, sendo verdadeiros exemplos para mim, minha esposa e nossas duas filhas.
Dias desses, escutei do meu sogro que eu sou o filho que ele nunca teve. Naquele momento, passou por minha mente, como uma seção de flashes, vários episódios em que eu o magoei, entristecendo o seu coração. Houve um misto de alegria, pela sua fala, mas, também, de tristeza, por escutar o que ele disse, sabendo que já agi de forma a lhe causar angústia.
Quero, nessa hora, pedir perdão a eles, pelas tantas vezes que os entristeci, seja com atitudes ou palavras, desejando, de coração, mudar minha forma de agir em relação aos dois e, ainda, aproveitar o ensejo e dizer-lhes que os amo.