Porque somos humanos: a solidão

A solidão das pessoas está a aumentar de dia para dia: anunciava ontem o noticiário das oito.

A perspetiva não é agradável. Só a mera ideia da palavra solidão remete-me para um estado de tristeza desesperançada; quanto a mim, o pior de todas as estirpes.

Numa avaliação objetiva de mim mesma, considero ser uma pessoa tendencialmente solitária. Privilegio os meus momentos a sós, meditativos ou em que faço coisas de não gosto de partilhar. E confesso que esses momentos me são absolutamente sensacionais. Não me custa nada estar sozinha com os meus pensamentos e sem falar.

Nunca, nestes momentos, me senti em solidão. Aliás, por mais estranho que pareça, algumas das vezes em que me senti atingida por uma terrível sensação de solidão estava literalmente submersa no meio de uma multidão.

Mas, obviamente, não é do meu género de caso que as notícias falam.

E eu estou bem consciente de que há diversos fatores que me levam a apreciar os meus momentos de solidão: o primeiro é, claramente, a minha personalidade tendencialmente introspetiva; e o segundo é o fato de os meus momentos a sós serem isso mesmo: momentos, frações finitas de tempo, por regra, opcionais; e, o terceiro, é que a minha vida está preenchida de pessoas com quem adoro estar, falar, brincar, etc.

O drama da solidão acontece quando as pessoas são apanhadas numa circunstância hostil, em que estão e se sentem sós e não gostam de estar nem o querem estar.

É aqui que a solidão se transforma num gigantesco problema, causador de muito desespero.

Mas se é um problema, pergunto eu: porque não trata-lo da mesma forma que tratamos os outros problemas com que nos confrontamos?

Com exceção da solidão instalada nas pessoas incapazes de se movimentar (por força da idade, circunstâncias de saúde, etc.) que vivem aprisionadas em espaços muitas vezes inumanos – o que transforma a situação num problema de ordem e responsabilidade social -, a solidão tem de ser encarada como uma responsabilidade de quem a vive.

No meu dia a dia, quando me deparo com um problema, depois de ultrapassar a fase de desorientação/raiva inicial, a primeira pergunta que me coloco é: porque é que isto me aconteceu?

Refletindo nas causas muitas das vezes encontro a solução ou, na impossibilidade desta, uma forma alternativa de serenar o espírito.

Sei por experiência própria que, quando há alguma coisa a incomodar-me, se me entregar ao incómodo, à tristeza, ao sentimento de impotência, em menos de nada estou em perfeito e, diga-se, inútil desespero. Mas se, ao invés, fizer algumas das coisas que me dão prazer, que me mimam, que me fortalecem, pelo menos dou-me a oportunidade de sentir melhor e restaurar a estabilidade emocional para encontrar soluções.

Há montes de coisas simples possíveis de fazermos sozinhos e que eu faço e que me fazem muito bem. Meditar, ler, escrever, ginástica, ir ao cinema, ver televisão, são apenas alguns exemplos.

Mas o importante não é a quantidade, é a qualidade. O truque é encontrar aquilo que nos faz sentir bem independentemente de estarmos ou não sós. E aqui não há imitação possível, cabe a cada um descobrir o que lhe dá prazer e pô-lo em prática.

E se, ainda assim, a solidão continuar a pesar?

Então, o caminho tem de fazer-se na direcção das outras pessoas: investindo nas relações espiritualmente reconfortantes; aceitar construir novas pontes, por mais improváveis e ridículas que, a partida, nos pareçam.

Uma coisa tenho eu a certeza: sejam quais forem as circunstâncias em que vivemos, o modo passivo de existência, o estado de auto-piedade, é que nunca nos levará além do sítio onde já estamos.

Afinal, analisadas bem as coisas, vejo que há sempre alternativas possíveis para quem não gosta de estar só e por isso reformulo a minha ideia inicial: a solidão pode ser triste mas não tem porque nos transformar em seres desesperançados.

Blog da autora:

mundodasnoitesbrancas.blogspot.com

olinda morgado
Enviado por olinda morgado em 12/12/2011
Reeditado em 12/12/2011
Código do texto: T3385047