O materialismo não é realista

O materialista se exclui do mundo quando pensa dessa forma. Observe-se, pois, o cérebro de uma pessoa que tenha acabado de ir à óbito tendo seu cérebro fisicamente intacto... as células estão mortas... no entanto, a estrutura, sem vida, mantém-se ali, ainda armada, como uma casa que acaba de ser abandonada... sem vida, mas ainda ali.

Além dos fluxos que irrigavam as células e das demais reações químicas que ali se procediam mantendo a maquina cerebral viva, o quê mais fluía e não mais flui nesse cérebro morto?

Informação.

Idéias e pensamentos.

Ora, mas sendo a máquina cerebral o aparato onde se processavam essas informações, que analisava, concebia e recebia pensamentos e idéias, não era ela mais que justamente isso, o meio no qual se processavam essas informações e fluíam idéias e pensamentos na natureza, mas não, as informações, pensamentos e idéias em si.

Uma mesma quantidade de células cerebrais podem manter informações distintas, isso demonstra que as células não são mais que o meio de armazenamento e processamento da informação, mas não a informação em si. Ora, não sendo um grupo de células uma única e determinada informação, ideia ou pensamento em si, não podem ser também esses entes os fluidos que irrigam alimentando e purificando tais células tal como não podem também ser os fluídos envolvidos nas demais reações químicas da máquina cerebral.

Responda-se, então, o que de material é a informação, as idéias e os pensamentos que fluem no cérebro?

Poderiam ser, talvez, as correntes elétricas que fluem no cérebro?

Se uma corrente elétrica é informação, ideia ou pensamento então num raio ocorre um maior fluxo de informação que num jornal ou revista, já que é bem maior a corrente no primeiro caso que no segundo, o que não faz sentido.

Ora, poderia-se então levantar a questão de não ser, de fato, a corrente elétrica a informação em si, mas sim, um sinal elétrico, um impulso elétrico ou uma sequência deles. Ora, mas não é um sinal ou uma sequência de impulsos elétricos justamente a representação de algo por meio da disposição de instâncias materiais? Não poderia-se fazer o mesmo com pedras, dispondo-as de modo que representem algo para quem as veja naquela disposição?

Podemos desenhar o algarismo 3 na areia da praia e perguntar a outra pessoa conhecedora dos números o que ela vê ali representado. Estando sã a pessoa responderá que vê o algarismo 3. Porque ela foi capaz de ver isso na areia? Porque os grãos de areia foram dispostos de modo a representar a informação correspondente à forma do algarismo 3, poderíamos dizer que captou-se um sinal na areia, mas poderíamos dizer igualmente que tal sinal é a informação em si? Se assim o fosse não necessitaríamos de nos preocupar se a pessoa entende acerca dos números antes que arriscássemos em questioná-la sobre o que ela vê na areia. Um desconhecedor dos números veria com os olhos o algarismo 3, mas não entenderia tal sinal na areia como uma representação do próprio número, a informação acerca desse algarismo não é o próprio sinal na areia, não é a forma ou a ordem como foram dispostos os grãos de areia, um após o outro. Por que seria diferente com os sinais elétricos, a forma como se dispuseram os elétrons fluentes, um após o outro? A informação não é o sinal ou os impulsos elétricos, esses são efeitos do fluxo de informação, de ideias ou pensamentos.

Ora, então, naquele cérebro, o que era a própria informação, ideia ou pensamentos que nele fluíam?

Temos, pois, de concluir que no cérebro não eram nada, o que eram tinha sim efeitos sobre o cérebro como, principalmente, o próprio fluxo de sinais elétricos que ocorria naquele cérebro, mas não sendo, como se viu, a própria informação, ideia ou pensamento algo no cérebro mas a causa dos efeitos materiais cerebrais.

Não sendo, pois, informação, ideia ou pensamento qualquer ente material no cérebro, um materialista exclui-se a si mesmo do Universo em sua concepção desse Universo visto que ele, o materialista, pensa sobre esse Universo, assim como tem idéias e analisa informações que fluem em sua mente.

Sendo o Universo, por definição, o que envolve inclusive os indivíduos pensantes*, e sendo o materialista um desses seres logicamente, considerando Real o Universo e com ele, então, o próprio materialista, a representação do Universo na mente do materialista, não incluindo então o próprio materialista que pensa, que tem idéias e na qual fluem informações, não corresponde à Realidade.

Conclui-se que o materialista não é realista.

*Indivíduos capazes de conceber pensamentos e idéias; que possuem uma faculdade de pensar.