Onde nasce uma vida



Onde nasce uma vida, qualquer que seja ela, nasce uma referência vitoriosa da biologia sobre a desordem, uma referência empreendedora da evolução sobre qualquer plano e da improbabilidade sobre a estabilidade.
 
Na reprodução assexuada, a eternidade era uma possibilidade, posto que de um ser surgem dois. A discussão filosófica que cabe é se algum dos dois novos seres continua sendo o progenitor,  representando exatamente este, ou se os dois novos seres são o mesmo inicial ser em essência, ou tão-somente dois novos seres. Enquanto a reprodução assexuada atua somente sobre seres sem noção de eu ou de consciência, ou que de alguma outra forma pudesse substituir esta realidade orgânica, fica meio sem sentido discutir se os seres novos são o mesmo ser original.
 
Desconheço a reprodução assexuada em seres que possuam algum nível de consciência (entre os animais, o caso mais conhecido é o da estrela do mar). Não consigo, talvez por incompetência ou pura ignorância, imaginar reprodução assexuada em seres complexos neurológicamnte, que viessem assim a ser clones físicos e mentais.
 
Nos animais, é o brotamento ou  a gemiparidade um dos tipos de reprodução assexuada mais frequentemente observado. (De um ser vivo básico surge como cópia outro indivíduo, que ao longo do tempo pode se destacar do primeiro e passar a ter vida própria). A hidra é um exemplo clássico. Em outros casos, o brotamento pode levar a uma colônia de organismos.
 
Em algum momento, ainda bem no início da grande jornada da vida, a bilhões de anos passados, uma singela fatalidade, daquelas quase que miraculosas, propiciou que uma simples e necessária fagocitose desse início a uma revolução que abriu as portas para a reprodução sexuada e assim para variações genéticas maiores, que acabou por decorrência sucessiva nos trazendo até os dias de hoje. Aquela aparentemente simples ocorrência selava um grande salto evolutivo que nos levou da reprodução assexuada para a maravilhosa reprodução sexuada, o que mudou consideravelmente a história da vida.
 
O que hoje vulgarmente chamamos de sexo, é apenas uma das múltiplas variações do ritual bio-mental que nos leva a reprodução sexuada coroada pela fecundação.
 
O sexo em si, como vulgarmente percebemos, é diferente entre cada ser vivo, mas a grande variação é no que diz respeito ao ritual ou ao ato sexual. O processo de reprodução sexuada é conceitualmente o mesmo, com cerimonial diverso. A evolução selecionou de forma natural, sexual ou simbiótica os organismos vivos cada vez mais bem preparados para deixarem um maior número de descendentes, fazendo cada vez mais do ato e do ritual sexual um prazeroso exercício que nos seduz a praticá-lo.
 
Com tudo isto o sexo em si é maravilhoso, e o ato e seu ritual são fascinantes e prazerosos, mesmo a despeito dos que pensam ao contrário ou dos que o vejam como proibitivo sem função reprodutora.
Mas se hoje aqui estamos, é porque foi sempre cada vez mais prazeroso o ato sexual, que nos levou de poucos hominídeos a mais de sete bilhões de irmãos, que em geral se segregam em grupos maiores ou menores.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 09/12/2011
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