Interpretações

Às vezes somos levados a acreditar que, o que sentimos, é, também, sintomático nos outros. E por essa razão, começamos a fazer interpretações acreditando que a sensibilidade de um sentimento deveria ser também recíproca.

O envolver-se da palavra requer entrega, muito mais ainda, à sensibilidade do sensível que vive no pensar, onde as emoções se encontram, entrecruzam-se e se reconstroem numa dinâmica randômica, numa convergência de caminhos sinuosos que levam à harmonia sem à preocupação da congruência de suas linhas.

Dessa forma é possível antevê o que diferencia na essência a interpretação ao equívoco do pensar que se interpreta.

A primeira requer vivência no espaço em que se deseja falar. O segundo nasce do desejo desesperado em querer ser realizado, às vezes, fruto da própria inconsequência do ato; das indagações não esclarecidas e do desconforto do acaso que o decepciona.

Ocorre que nem sempre estamos sensíveis às interpretações, e a falta dessa sensibilidade em alguns momentos, destoa à linha lógica do sentir, permitindo que algumas atitudes movidas também pela razão desloquem-se de sua coerência para encontrar-se com a decepção, não obstante, alheia a nossa vontade.

A vida não nos oferece uma fórmula mágica de interpretar sentimentos ou atitudes – a vida nunca será mágica, nunca será uma ficção, nunca será uma emoção eterna – mas a práxis nos permite, pelo menos, fazer escolhas. Contudo, escolher caminhos, demanda determinação e isso exige de nós uma tomada de decisões.

Portanto, não nos enganemos!

O jogo das interpretações não navega apenas na órbita do pensamento ou de suas divagações. Ela [a interpretação] é matéria concreta que se manifesta, direta ou sub-repticiamente em nossa vida real, em nossos olhares, em nossas carícias, em nossos desejos, em nossos traumas e medos, em toda a nossa forma de sentir e de expressar, permitindo, muitas vezes, ressignificar a verdade que se encontra diante de nossos olhos.