O primeiro beijo
Lembrei-me de você agora, de quando me beijou.
Assim, repentino, impulsivo, quase que brusco.
Tomada pelo susto, sinto que demorei alguns milésimos de segundos para te beijar de volta.
E fomos...
Noite adentro, construindo o beijo.
Com os lábios, com as mãos, com o corpo.
- O beijo, que nem sempre é visceral, mas que sempre, sempre é construção. Construção simbólica. Trabalho paciente.
Vai-se tecendo algo de olhos fechados, para que só depois fique claro de que natureza é esse "algo".
O beijo, que é delírio compartilhado entre duas bocas...
Ficássemos só ali, de olhos fechados, delirantes, no escuro de nossos mundos individuais cerrados pelas pálpebras...
Tivéssemos nós, ficado imersos nesse doce conflito arcaico que é o primeiro beijo de duas pessoas - o susto de uma criança!
Ah... mas o corpo reencontra seu ritmo.
As mãos se desvencilham.
Os lábios separam-se.
E a gente tenta dar sentido às coisas que não precisam de sentido.
E a gente complica a vivência pelo desespero de viver mais um pouco.
(...)