Inteiramente
Era meio estranho. Todas as noites quando ele passava por aquela rua, lá estava eu, me escondendo no nada, engolindo a escuridão. Ás vezes a gente fala por códigos, expressões que deveriam ficar subentendidas por si só, mas traem o que a gente realmente quer. Eu queria amor, queria ser, queria ter. Ele não compreende. Queria só o amor, limpo e puro. Sabe, quando se ama honestamente? Quando a pessoa olha nos seus olhos ao mesmo tempo em que arranca a casquinha do machucado do seu pé, e ainda sorri pra você. Eu queria só ter sido sua, sua paz, sua fome e sua sede. Sua água, sua comida, sua falta de sono. Eu sei que é preciso muito mais do que isso pra me aguentar, mas teria sido bom se você tivesse suportado os meus sorrisos doces e enjoativos demais, os meus sonos pesados e a minha energia louca. É, não te culpo. Seria mesmo pedir demais que você amasse a minha bipolaridade, me amasse sem culpa e amassasse todos os dias no sofá da tua casa. Eu vim com defeito mesmo, mas eu tinha coisas boas, sabe... E dessas coisas, tudo, tudinho mesmo era seu. Não vieram em caixas e embrulhos coloridos, mas eu pensei no jeito mais bonito de te entregar a minha vida sem cor. Seria banhado de sorrisos, não haveriam mágoas e nem rancores e eu te entregaria todos os dias a minha alegria. Mais um plano que não deu certo, mas não faz mal. Um dia é da caça e o outro é do caçador. Logo, logo a escuridão me engole.