VALEU...
Todas as minhas vivências profissionais foram e são significativas, em cada situação e momento vividos, estão pessoas e feitos que marcam para sempre minha vida, e creio que a vida deles também.
Então, para conseguir escolher uma, é difícil, por isso me coloco a relatar a primeira vivência significativa em minha vida profissional, há vinte e um anos atrás, lá em Conceição do Muqui, Distrito de Mimoso do Sul-ES, na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Antônia Junger Poubel da Silva”.
Era minha primeira experiência como professora depois de ter concluído a Escola Normal. Fui lecionar Matemática, substituindo a professora que havia saído por motivos de doença. Eu detestava matemática, mas queria trabalhar e ter meu dinheiro, portanto no início lecionar pra mim era apenas uma questão de independência financeira de uma jovem que gostava de ensinar mas que desejava ser alfabetizadora e não professora de matemática.
Havia na 5ª série (na época era por série, não por ciclo ou ano), um rapaz muito pobre, paupérrimo, ia pra escola sujo, com cheiro forte de suor e chulé no tênis velho e rasgado. Ele, fazia muito tempo havia parado de estudar e não se lembrava de nada, exatamente nada mesmo, e ensinar matemática para ele era como cavar ardorosamente nos cascalhos de uma mina para encontrar algum ouro. Travamos eu e ele uma luta muito grande por sua aprendizagem. Eu detestava dar aulas de matemática, mas ajudar meus alunos era mais importante que meu desprazer. Concluímos o ano letivo, ele aprendeu, com muita dificuldade, noções básicas de matemática. Eu passei no vestibular e fui para outra escola mais perto (a Escola Municipal de Ensino Fundamental “Catharina Giovanini Faber”, em São Pedro do Itabapoana, outro distrito de Mimoso do Sul-ES), para poder estudar. Lecionava agora Língua Portuguesa, Artes e Ensino Religioso, era tudo de bom para mim.
Um dia na rodoviária, encontro aquele rapaz, meu ex-aluno de Matemática lá de Conceição de Muqui, que ao me ver, vem ao meu encontro todo arrumadinho, limpinho, cheiroso dentro do uniforme da VIAÇÃO CORDEIRO, me abraça emocionado e feliz e me diz:
_Obrigado, Irene! Muito obrigado!!!
Eu, sem entender o "porquê" do agradecimento, perguntei o motivo e ele me respondeu:
_Graças às suas aulas de matemática, à sua paciência e carinho em não desistir de me ensinar, hoje eu tenho meu emprego e a minha vida mudou... Obrigado, professora!!!
Essa foi uma experiência que marcou o início de minha vida profissional e deu a ela um significado maior, que até então, eu não conhecia. Valeu... É algo que nunca vou esquecer.
Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 06/12/2011