A Simples Existência
Quem me dera se antes de eu existir alguém tivesse pedido a minha opinião.
Quem me dera se antes de amar alguém pudéssemos ao menos ter uma pequena esperança de ser correspondido.
Quem me dera se quando fossemos procurar um emprego o contratante fosse justo com a gente, e nos dissesse abertamente que não há sentido no trabalho.
Quem me dera se quando fossemos ingressar numa faculdade alguém, representante da instituição, nos alertasse a respeito do perigo de se atolar nos estudos pensando que assim encontrará sentido para a frágil e curtíssima vida.
Quem me dera se todos os nossos questionamentos tivessem alguma base sólida para que pudéssemos explorar esporadicamente nossas dúvidas.
A simples existência me faz gritar de dor, e angústia. O simples fato de compreender que não há sentido nas coisas que priorizamos, nos faz entender o quanto somos ignorantes. Dedicamos a nossa vida a coisas fúteis que nos presenteiam somente com a angústia e a solidão.
Muitos se refugiam da verdade existencial na luxúria, lascívia, promiscuidade, orgias, infidelidades, estudos, trabalho, consumismo, enfim, em tudo aquilo que possa ofuscar, ou mesmo desvirtuar a nossa atenção para a triste frustração que carregamos no peito. A frustração de não nos sentirmos plenamente realizados.
A ideia de que não temos o pleno controle da nossa vida nos deixa desnorteados, ansiosos e inconformados. Queremos administrar o tempo como administramos nossas horas, queremos antever as doenças, as catástrofes naturais, e a previsão do tempo. Somos um bando de insensíveis tentando fazer com que o mundo gire em nosso redor. Não há limites para a irracionalidade humana.
O sorriso de uma criança não encanta mais os adultos. A inocência não é mais apreciada pelos “sensíveis” assassinos de sonhos. O choro de uma mãe não sensibiliza mais as autoridades. O grito da fome não incomoda os burgueses pobres de espírito. A ausência do verdadeiro amor nos corações raivosos de sensíveis seres humanos não nos deixa com remorsos.
Envelhecer ao lado de quem a gente ama é utopia na realidade sombria do presente.
A frase “Eu Te Amo” é usada somente pelos sobreviventes de uma guerra que só esta começando.
Priorizar o que realmente importa é ser motivo de chacotas pelos anormais “lúcidos” de uma sociedade mórbida.
O silêncio da morte não interioriza mais os seus telespectadores. Inconscientemente pensamos que somente as pessoas ao nosso redor são “capazes” de morrer.
Passamos horas e horas nos dedicando aos Estudos e ao nosso trabalho, e quando chegamos a nossa casa, e temos a oportunidade de nos desligar de todo o estresse do dia; fazemos o contrário, descarregamos todo o nosso ódio nas pessoas que mais amamos. E esquecemo-nos que o amanhã poderá não chegar...
Um emprego que se perde, pode ser desconcertante para um Pai de família. Uma graduação incompleta poderá ser um terror para um jovem que tem sonhos. A falta de recursos financeiros poderá nos proporcionar intempéries vergonhosas. Porém tudo isso é susceptível a segunda chance. Em contrapartida, um “Eu te amo” não compartilhado poderá ser irreversível, um carinho não esmerado poderá nos causar uma irrefutável dor no peito.
Não espere uma segunda chance para explorar o amor que existe dentro de você.
A simples existência só será significativa quando esta for movida por simples ações que fazem a diferença.
Ser um exímio profissional é uma virtude, ser um estudante assíduo é um dom, porém viver em prol dos recursos é valorizar as coisas que pouco importa e deixar para depois o que realmente nos preenchem.
Seja o melhor profissional que você pode ser, seja o melhor estudante que há dentro de você, porém use todos estes recursos para acrescentar algo a sua vida, e não para suprir a falta de amor e carinho que muitas vezes deixamos de dar e receber por está ocupado demais.
A simples existência é a mais singela oferta ao amor.