Meu Grito Primal

"Shout, shout, let it all out

These are the things I can do without

Come on, I'm talking to you, come on" (Shout, da banda Tears for Fears)

Escrevo não por escrever. Não estou à tôa por aqui. Escrevo como quem grita. Um rugido sobre-humano. Não aprecio minhas letras. Cuspo-as na tela do computador, livro-me delas. Não consigo suportá-las. Ninguém consegue. Escrever é meu remédio, minha cura de me ser. Só assim posso arrancar de mim todo o peso supérfluo que jogaram sobre a minha cabeça. Minhas vértebras não nasceram para suportar tal peso. Aliás, andar sobre quatro patas seria mais confortável. Existe um lugar onde se possa gritar o mais alto possível sem que me chamem de louca? Não entendo nada. Por que ficou proibido fazer coisas tão naturais? Quem é o louco afinal? E aqui estou. Sozinha. Assim é melhor. Não há companhia que me faça esquecer de mim. Sim. É para isso que servem os amigos: os outros servem para que o eu consiga ser suprimido. Eu não quero encontrar alguém que um dia eu possa dizer "eu sou você e você sou eu". Jamais!!! Eu preciso de alguém que me faça sentir o êxtase de não ser nada. De não precisar gritar. De ser a mais completa ausência. Será que esse outro não é uma outra parte de mim mesmo? No final, não preciso de ninguém. Todo mundo não morre sozinho? Isso é inevitável. O que não se sustenta é a morte antes de morrer. Suicídio mental. Depois de matar a si mesmo, morre-se todos os dias seguintes. O último bilhete que deixo diz a mesma coisa sempre: NÃO SUPORTO MAIS ME SER. E isso é o meu primeiro pensamento diário após a minha morte. Essa morte é a morte que dói. A morte propriamente dita não dói nada. Acontece e pronto. A morte antes da morte é que mata. E estou morta. Sinto-me morta. Até quando resistirá um corpo sem alma? Não sei lhe dizer. Enquanto isso escrevo. Não para conseguir a cura dessa doença chamada morte. O máximo que pode ser feito é que eu consiga ao menos alívio, ainda que instantâneo ou por uma noite. Quase nada que é o suficiente. Será? Funcionou até agora. Até quando...

Christina Wed
Enviado por Christina Wed em 04/12/2011
Código do texto: T3371670
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