Êta, mundinho fake!
Noite fria chuva caindo lá fora e eu aqui sem a menor vontade de estar fazendo outra coisa que não seja isso mesmo.
E aí, pinta aquela paranóia de pensar se não estou me isolando do mundo e criando uma redoma muito perfeitinha, mas completamente artificial para se viver.
Há quantos sábados eu permaneço aqui fazendo o mesmo programa de sempre; ficando comigo mesma, aquecida por livros, pensamentos, acarinhada por planos e idéias, ao som de boa música e bons filmes?
Não se trata de solidão ou de achar que tenho que buscar algo lá onde brilha os luminosos da cidade. Não, não se trata disso. E também não é medo de estar sozinha, ou dificuldade de fazer amigos ou coisa parecida.
Na verdade, o que me incomoda diz respeito a uma forma muito particular de viver, de uma geração que se diz pós-moderna. Parecem-me tão artificiais as relações entre as pessoas que vejo nos bares, restaurantes e boates da cidade.
Parece que todos representam personagens da TV, das revistas de moda e, principalmente, personagens dos noticiários de fofoca. Caras e bocas, gestos e poses que extrapolam os rituais ancestrais de sedução. É como se todos estivessem à espera de flashes surgindo por detrás das plantas e arranjos de flores.
A diversão é apenas um pretexto para estar em exposição, ver e ser visto. As pessoas parecem modelos de anúncios do tipo: ela veste top Mariazinha, calça Diesel, acessórios Modernos. Ele vai de jeans blá, blá, blá...
Quando foi que as pessoas deixaram de curtir música e se esbaldar na pista de dança? Mas, dançando de verdade, sem preocupação com o que dizem ou pensam os “formadores de opinião”, isto é, se de fato eles existirem.
Aquela alegria estampada em rostos mega maquiados, em corpos cirurgicamente perfeitos, em sorrisos milimetricamente alinhados, tem um- não- sei- o- quê de tristeza.
Meu Deus, e aquela alegria toda? Não pode ser de verdade! Esse povo deve estar tomando, fumando ou cheirando alguma coisa para dançar, rir e falar sem parar. Parar para ouvir, para sentir, para perceber os outros em sua volta.
Entre eles não existem diferenças ou marcas de identidade, ou melhor, de singularidade de vida e de natureza humana. Todos fazem parte de um exército de tipos estereotipados amalgamados pela indústria multimidiática.
E aí, alguém pode até pensar lá com seus botões: essa moça está freqüentando os lugares errados e convivendo com pessoinhas fúteis. E eu lhes direi, olha que não. Mas não posso negar que esse vírus tem contaminado muita gente boa que eu conheço e tem sido difícil resistir a isso.
E nos espaços virtuais então? Nas comunidades eletrônicas o negócio só piora. Primeiro não existem amigos, existem os adicionados. Pessoas que nunca conversaram ou sequer dividiram experiências de amizade, convivem na mesma página. Aliás, são todos lindos, completamente retocados pelas potentíssimas câmeras digitais. Sorrisos mil, frases de efeito, efeitos artísticos...
Ai! Cansei, pseudo-celebrities. Vou continuar aqui mesmo no meu cantinho, com um grupinho de amigos nada perfeitos, bebericando alguma coisa e filosofando sobre esse vazio característico do século XXI.
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