E, quando a sorte bater na sua porta?
Uma carpa chinesa gigante no lago Paranoá. Foi essa a última notícia inusitada no cenário brasiliense. Fiquei entre encantada, surpresa e deliciosamente feliz. Primeiro pela raridade de notícias dessa gama na cidade-das-questões-fundo-de-ralo. Segundo, pelo teor místico e filosófico do fato em si. Afinal, não é todo dia que uma carpinha peso pesado dá o ar de sua graça por essas plagas.
Passado esse deslumbramento inicial, me deparei com a segunda parte do enigma; aquela que diz: decifra-me ou te devoro.
Nesse sentido, não dá para saber de uma história dessas sem pensar de maneira mais aguda, no sentido impresso nela. E aí eu comecei a me perguntar o que essa carpa tinha a ver comigo? Foi então que o bichinho catador começou o seu trabalho, desfolhando os sentidos, as simbologias e os misteres por trás da notícia.
Bem, o peixe é historicamente símbolo de prosperidade em muitas culturas. Na cultura judaico-cristã, é memorável a cena dos três peixinhos multiplicados por Jesus Cristo, que satisfizeram de sobra à multidão. No eixo China-Japão, a carpa representa coragem, força e prosperidade. Coragem e força que lhe são exigidos, quando na época de sua reprodução; ela vence a correnteza para reproduzir. E prosperidade está relacionada à sua capacidade de se multiplicar rapidamente. Pensando nesses significados, acredito na carpa como a representação de alguma coisa muito boa.
Até aí, tudo ia bem, até que algumas perguntinhas começaram a soprar no meu ouvido dúvidas filosóficas:
Todo pescador sonha em pegar um peixe grande, assim como todos nós sonhamos com aquela oportunidade extraordinária, mas será que todo pescador está realmente preparado para isso? Será que estamos? Que conhecimentos, que técnicas ele deve ter assimilado antes de tentar fisgar o tal peixão? E nós? E depois, o que fazer com ele? De que forma ele pode aproveitar o fato, e multiplicá-lo a ponto de torná-lo duradouro? E o que faremos nós quando o bilhete premiado estiver em nossas mãos?
Assim como o pescador, corremos o risco de ver cair na rede, peixe. E dos grandes.
E foi com certo friozinho no estômago que me dei conta: a prosperidade exige sabedoria antes, durante e depois de sua chegada.
Isto é, para quem não pretende entrar no rol dos meros contadores de histórias de pescador.
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