Coincidências
Não adianta insistir. Não vai acontecer de novo. Esse é o triste das coincidências. Você passa a vida achando que algo assim nunca vai acontecer, e, de repente, acontece. Então, o momento acaba, e você espera que aquilo aconteça de novo. Mas não acontece. Porque foi só uma coincidência.
O mundo é uma mistura de fatos que se repetem sempre, e fatos que acontecem apenas uma vez. É um emaranhado de memórias distorcidas, pois ninguém se lembra dos momentos exatamente como aconteceram. É uma confusão de simples e complexos que raramente parece levar a algum lugar.
Preocupamo-nos ora com as coisas, ora com os motivos por trás delas. Às vezes, valorizamos a nós mesmos, e protegemo-nos egoisticamente, ignorando o resto. Às vezes, deixamos que nos firam para protegermos coisas que decidimos serem mais importantes que nós. E às vezes ignoramos tudo, acreditando desoladamente que não há nada que mereça ser protegido. Nossas resoluções de uma noite não parecem tão resolutas na manhã seguinte. Como se fossem tomadas sob o efeito de alguma bebida forte.
Quando nossas constantes mudanças de ideia tornam impossível confiar em nós mesmos, o que resta? Há coisas importantes nesse mundo, sim. Coisas que valem a pena. Coisas que passaríamos por dúzias de punhais para proteger. Mas nem sempre lembramos disso.
Às vezes nos trancamos covardemente em conchas, e vemos o mundo se mover ridiculamente perto de nós. O que fazia sentido ontem parece agora um polvo tentando usar todos os seus braços para apontar a direção certa. Em palavras menos metafóricas, o que fazia sentido ontem, hoje não parece ter direção certa.
As melhores coisas da vida não vão se repetir. As piores, também não. Só aquelas coisas medianas e rotineiras que se repetem ciclicamente. O resto, considere-se uma coincidência.