diário 26.11.11

crises de choro me dão crises de tosse, eu tenho que beber mais do que meus 5 litros diários d'água por dia para aplacá-las. mas não é por isso que eu não gosto de chorar.

ontem eu vi uma nuvem que se parecia com o perfil do meu avô que morreu quando eu tinha 4 anos, então não podia realmente se parecer com ele, porque eu não me lembro dele, já vi fotos, é claro, mas não tinha nenhuma de perfil, mesmo assim, foi isso o me pareceu. mais tarde, quando as luzes dos postes se acenderam de repente enquanto eu dirigia cautelosamente para casa, acenderam-se como luzes de natal. eu costumava passar os natais com minha avó, todos os da minha vida exceto o último da vida dela, que ela passou numa uti sedada e inconsciente de seu diagnóstico que terminaria por matá-la menos de um mês depois. também não gosto mais de natal.

quando cheguei em casa assisti a um monte de programas de tv que eu costumava assistir, mas agora, por conta dos meus horários (tenho que dormir às 21:30 pra acordar antes das 6:00), sou impedida de ver. fiquei até tarde, até que começaram as reprises dos episódios que eu acabara de presenciar, depois decidi começar a ler. peguei um livro não aleatório que eu planejara com uma semana de antecedência (estava estudando pra prova, não podia ler de imediato).

o fato é que de 6:20 (horário em que eu acordei) do dia 25.11.11 até agora 19:56 do dia 26 eu devo ter lido umas mil páginas juntando os três livros que eu li em sequência, fumei duas carteiras de cigarros, não consigo me lembrar de ter comido muita coisa, devo ter beliscado alguma coisa antes do último livro, mas só consegui sentir fome de verdade depois que acabei.

e um último detalhe, faz menos de dois meses que minha irmã mais velha, que um dia fora minha melhor amiga, morreu.

tendo colocado esses fatos, aliados ao de que não tomei meus remédios, tenho plena convicção de que meu ataque histérico foi causado - curiosamente não na hora que o irmão de um dos protagonistas do livro morre, mas na hora em que a mãe da outra protagonista é curada de sua doença e volta por mágica - por conta da soma de todos estes fatores.

eu quero chamar essa falta de sono de pseudo psicose, ou uma certa mania, mas sei que minha psicóloga discordaria, ela quereria chamá-la de pura e simples obsessão compulsiva que eu tendo a apresentar em raras ocasiões. uma vez li 14 livros em 11 dias, não eram livros finos ou com figuras...

acabei de descobrir um quarto livro que me pareceu interessante, não tanto quanto o último, mas tanto quanto o primeiro, pelo menos, isso com certeza... estou considerando a hipótese de dormir um pouco, pelo menos uma hora, antes de me aventurar nessa nova estória. curioso: quase escrevi "nossa" estória... freud explica os atos falhos... talvez isso seja um sinal de que eu deva voltar a ler e testar meus limites, ver a mim mesma decobrir quanto tempo eu aguento antes de desmaiar ou surtar por causa das pílulas... ou talvez seja só pelo fato de hoje ter chovido o dia quase todo, e quando não, só haver nuvens cinzas no céu que tenha me animado... sem ironia, realmente prefiro os dias cinzas. seja o que for, o cansaço está começando a abater minhas costas, especialmente por conta dessa postura maravihosa que eu adquiro quando estou escrevendo... mas minha cabeça roda como se eu estivesse bêbada quando fecho meus olhos, oh dúvida cruel...

23:52 oh, doce sono pós livros de fantasia, são tão belos e mágicos, coloridos e sufocantes de uma forma boa, você sabe que nunca vai sair dali, que aquilo é que é real, e ao mesmo tempo fantástico. eu não nasci para viver nessa dimensão, eu deveria ter nascido pro mundo dos meus sonhos. quase 3 horas e meia ininterruptas, um milagre, funciona melhor que meus remédios, talvez eu devesse parar com eles, talvez ficar quase 40 horas acordada direto seja o que funciona pra mim de verdade... lendo e me perdendo no meu mundo fantástico... quem me dera... pudera eu... há tanto que eu gostaria de fazer e as contingências cotidianas me impedem... acho que todo mundo é assim, resignado com a própria insignificância, impotência.

engraçado como acordei sem sono nenhum, isso realmente só acontece quando consigo dormir sem remédios, o que é incrivelmente raro. meu sono possivelmente teria durado mais, não fosse a interrupção nada gentil da minha linda sobrinha, filha dessa minha irmã falecida, minha única memória boa dela que restou palpável, intocada pelas manchas da nossa relação. a criatura que eu mais amo no mundo, a única criatura viva que eu amo no mundo. ela está aqui ao meu lado me perturbando. adoro, no sentido literal da palavra, não da forma vã como ela é comumemente usada, o jeito como eu sempre ouço seu choro mesmo à distância, e como eu reconheço sua voz numa escolinha infestada por crianças gritantes.

eu tenho um instinto muito protetor com minha irmãzinha, irmãzinha, ela já tem 20 anos mas sempre será uma criança pra mim, ela é tão frágil, tão branquinha, magra, fina e alongada como uma bonequinha de porcelana, tudo nela grita por proteção, exceto quando ela decide jogar seu anjo da desgraça em cima de nós, aí é um deus nos acuda... por isso que não consigo amá-la: não suporto o que odeio nela.

ultimamente tenho achado previsibilidade em tudo o que vejo, sinto, ouço, leio. é um eterno déjà tout implacável. como se eu estivesse vivendo a mesma vida pela segunda vez, ou milésima, quem sabe... eu sei de tudo o que vai acontecer antes que aconteça, não é de se admirar que eu sofra de depressão, não há muita emoção na vida de alguém que já sabe como acaba... talvez haja um pouco de pretensão em afirmar "tudo", eu admito... mas o jeito como as coisas acontecem... ? desde pequena sempre foi assim, eu sabia o que ia acontecer, minha irmã fazia as coisas acontecerem conforme sua vontade... acho que nossos talentos seriam muito apreciados no meu mundo dos sonhos, aqui só faz com que as pessoas pensem que somos loucas...

minha pequena amada dormiu, eu comecei a esboçar um poema sobre ela... algo como "o calor do seu corpo ao meu lado acalenta o frio do meu coração" mas achei melhor parar, eu só quero escrever coisas boas para ela, sei que não estarei presente quando ela for maior e quero deixar um legado decente para ela, que ela saiba que eu tenho tantas virtudes quanto defeitos, e que minha maior qualidade é esse amor esmagador que eu sussurro pra ela em seus sonhos, para que ela os tenha tão coloridos quanto os meus.

vou parar por aqui, isso é muito pessoal para ser publicado, mas azar... a menos que caia um raio imprevisível sobre minha cabeça agora, eu seja sequestrada por alienígenas ou a internet não esteja funcionando, isso deve ir "ao ar" em alguns minutos; minha sobrinha acordou com um susto quando a porta bateu com o vento e pediu que eu "ficasse a encostando" enquanto ela cai no sono novamente, o que significa ficar segurando sua mãozinha até que ela comece a dar espasmos nas pernas, sinal de que está dormindo, o que está começando a acontecer neste exato momento...

uma última coisa: acabei de perceber o quanto é difícil digitar com apenas uma mão, especialmente com a direita, tenho mais destreza na esquerda, fico constantemente digitando as teclas ao lado das que eu pretendia, ou pressionando com muita força, ou tremendo, fazendo com que a tecla seja digitada duplamente... o computador é novo, ainda não configurei o teclado para que ele seja menos sensível às minhas mãos trêmulas. agora chega de prolixidade causada pela carência. até a próxima, querido diário não pessoal.

só de pensar que comecei isso no computador porque não tinha uma caneta...

Taís Gollo
Enviado por Taís Gollo em 27/11/2011
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T3358747
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