Picharam o muro do meu vizinho
Tenho um vizinho, que mora do lado direito de minha casa. Trata-se de pessoa honesta, educada, simpática, e, acima de tudo, trabalhadora. É, também, pessoa pacata.
Há, aproximadamente, uns seis meses, adotou a postura de cuidar da parte externa de sua casa, fazendo algumas reformas no passeio, muro e portões, dentro de suas poucas possibilidades.
Assim, arrumou seu muro, rebocando-o, eis que era apenas chapiscado, o que o impossibilitava de pintá-lo. Em cima do muro, colocou telhas coloniais atravessadas, o que protege o muro, além, é claro, de embelezá-lo.
Depois, providenciou arrumar o passeio, fazendo novo piso, eis que o anterior era bastante irregular. Após o cimento grosso, colocou uma espécie de cerâmica, muito bonita. Destaque-se que todo o trabalho é feito por ele mesmo, que conta, vez ou outra, apenas com um ajudante, em determinados serviços.
Após o muro rebocado e o passeio pronto, iniciou uma pintura, dando um novo ar à frente de sua residência. Muro pintado, começou a pintar, também, os portões, eis que a frente de sua casa dispõe de três deles.
Notei, nesse período de tempo, o trabalho árduo e constante de meu vizinho, que utiliza os finais de semana e os feriados, para tal. Como disse, no início, é homem trabalhador, e, durante a semana, não tem como fazer esses serviços. Tampouco dispõe de recursos financeiros para tal, além do que, em conversas que tivemos, disse-me preferir fazer o serviço ele mesmo, a ter que comprar o material, pagar algum profissional e, ao final, ainda ficar insatisfeito.
Quando tudo estava quase pronto, veio alguém e pichou o muro. Além da falta de respeito e de educação, a pessoa que o fez tem um péssimo gosto e uma forma grotesca de se manifestar. Escreveu, com tinta preta, sobre o muro azul, palavras que são ilegíveis, por nós outros, mas creio que o são, pelas pessoas que também não têm educação e respeito pelo patrimônio alheio.
A pichação é algo que nos afeta, não apenas no patrimônio, mas no que diz respeito, também, à nossa visão. É muito feio ver muros, portões, marquises e outros locais cheios de escritos, que nada dizem de útil ou de belo. É diferente, por exemplo, de ver um trabalho de grafite, em local apropriado e autorizado, onde a pessoa expressa cultura e inteligência.
Fico pensando até onde o ser humano é capaz de chegar, na tentativa desconcertada de se expressar.
Ao meu vizinho, quando o vi, hoje pela manhã, quando saía para o trabalho, apenas restou olhar o seu muro sujo e, talvez, indignar-se, mas sem a menor perspectiva de adotar qualquer providência. Além do anonimato, que é a marca da covardia daqueles que agem contrários à uma ordem social mínima, nada é feito pelas autoridades competentes, que, muitas vezes, são vítimas, também, da pichação.