Gota a gota
Existem dores que necessitam
Esvair gota a gota
Pois por mais que jorrem
Em momentos necessários
Creio que são só sinalizadores da dor maior
Que ainda não achou seu esvaziamento.
Esse tipo de dilaceramento deve ser respeitado
Silenciado no seu mais intenso derramamento .
Em seu tempo acatado
Sem risco de ser violentado
Pelo ímpeto do próprio vazio
Que não mede os extravios.
Excessos ou faltas matam
E descaminham o que precisa
Ser colocado no lugar
De modo mais estáveis
Mais alocáveis.
Creio na vida mesmo
Quando já desprendida
De todos os sonhos
Em outro plano renascido
Onde o riso é realmente risonho.
Por isso também creio que até
Mesmo inconsciente
Somos ávidos por existência
E às vezes insistimos na permanência
De coisas remanescentes.
Somos eternos
Mesmo antes de sairmos do seio materno
Ser mãe acho também que é isso.
Dar vida até mesmo ao que veio
Pra não ser visto.
No colo acalentado
Ou no seio amamentado.
Saber que ali habitou amor
Criou asas devidas e voou
Já que o tempo que lhe cabia
Já satisfazia o plano maior
Que sabe o que é melhor.
Acreditar em acaso é priorizar atraso
Por isso não lamente
O rumo certo dos ventos
São eles que trazem e levam
O bom e o mal tempo
A hora certa de cada momento.