[Quem é este Ser que Dorme em Mim?]
[... Eu abrigo em mim este meu algoz que ora dorme, ora acorda... e me sussurra pragas aos ouvidos!]
Às vezes, caminhando pela praça vazia,
ouço um murmúrio fundo...
Olho para um lado, para o outro,
e nada, ninguém à vista.
Em especial, isto sói acontecer
quando o mundo se me afigura estranho,
muito estranho... estranho a ponto de eu
ouvir o eco dos meus passos
como se viesse do nada, mas por certo deve vir
das pedras, dos escassos monumentos.
Há um outro [ser] que dorme em mim, isto é,
dentro de mim, no fundo de mim que eu não toco.
Neste instante em que o escuto, a minha vida pregressa
parece-me acabadamente, se posso dizer assim, inútil;
viver é pertencer sim, não resta dúvida,
mas pertencer à cena de um fiasco...
Quando os meus pensamentos chegam a este ponto,
eu aperto os passos para sair logo da praça,
para fugir a este murmúrio estranho,
persecutório, um julgamento enfim?...
À moda de Kafka, nunca sei por que eu, logo eu,
estou sendo julgado, se a cada homem é dada
uma cota, uma medida que nunca se enche...
Ou por outra: só se enche quando a morte...
[Não me perguntem medida de quê... é óbvio!].
Além disso, eu não tenho inconsciente;
tenho pena de cães errantes, mas não de gente;
de gente, não tenho pena não — ou eu me mataria
de tanto sentir pena de mim mesmo!
E o tal murmúrio? Ah, deve ser a lástima indivisa,
neblinada de [meus] erros, de meus fracassos,
e de meus gozos não cumpridos... deve ser!
Ou não... já que tudo é, e também, não é!
[Falarei dos dias brilhantes, das manhãs alvissareiras,
quando a corda que me plange assim o ditar]
[Desterro, 18h12 de 11/11/11]
... Ou eu, nunca dado a misticismos, cabalas etc, ia perder a oportunidade de escrever essa data assim? Ia não...
... como gosto de dizer, como o cão torna ao seu vômito, certamente eu voltarei a este texto... para apagá-lo, ou para ir mais fundo, catábase total...