A beleza podre da sala-de-estar.
Ah, se meu vocabulário fosse prolixo ao ponto de sugar essa dor que agoniza dentro de mim, a ponto de enquadrá-la em versos... Nem precisariam ser simétricos, nem precisariam fazer sentido.
Se eu achasse as palavras-chave que abrissem o cadeado que me fecha pra o mundo e pra felicidade, juro que se eu achasse, teria noites mais felizes. A melancolia que me atormenta todo anoitecer não provém da escuridão, nem do romantismo triste da lua cheia que muitas vezes não vejo, a laje é o meu limite. Essa tristeza noturna que vem sem falta, é fruto do silêncio de muitos dias, dos sorrisos que engoliram tantas lágrimas, dos medos sufocados pelo medo de ter medo, por tantas coisas incompreendidas e inexprimíveis.
Ah, quem me dera ser sempre sensata, prudente, otimista, focada, constante! Quem me dera ser ao menos um clichê qualquer, que se satisfizesse com uma futilidade qualquer... Não! Eu não sou constante, nem visível, nem perceptível, nem muito menos, o livro aberto que pareço ser. Meu pejo é muito mais intrínseco, os pedaços de mim, varri para debaixo do tapete alegre que enfeita a sala-de-estar.