RACISMO BRASILEIRO (TRABALHO SOBRE O ASSUNTO REALIZADO POR UMA FACULDADE DE ARACI – BA)
Fernando Peltier, Diretor, Escritor e Professor de Teatro.

PERGUNTARAM-ME:
- VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA QUE HÁ RACISMO NO BRASIL? Emita sua opinião.

Respondi:
Os números estatísticos, a partir de pesquisas que vêm de Censos aferidos pelo IBGE são claros e denotam afirmativamente esse RACISMO, objeto desse trabalho, em todos os segmentos pertinentes a essa questão. Creio que a resposta una à pergunta acima, nesse contexto, é afirmativa.
Porém, há de se analisar todos os aspectos que facultam essa terrível e deplorável atitude ou comportamento e em todos os níveis da sociedade brasileira. Esse ranço que se alastra pelos séculos, desde o início da chamada escravidão, pois desde lá, criou-se um estado ou estabelecimento de coisas, que gerou essa situação de, naturalmente, as leis favorecerem ao branco, o rico e os que tiveram a possibilidade de progredir social e economicamente, protegidos por essas leis. Quero dizer que não é apenas o preconceito racial, conquanto o preconceito social, o é também, parceiro do primeiro, o racial.
Toda a falta de condição e a ausência de oportunidades de ascensão, em detrimento das camadas mais pobres, que sempre as levam coletiva e individualmente, a uma submissão. Essa submissão que induz a uma postura de inferioridade, por exemplo, em contraponto com o desconhecimento de leis que determinam os direitos em pé de igualdade para todos os cidadãos. A isso se refere na Constituição do país e passa veementemente pela questão da educação, onde ainda persiste esse muro entre classes A, B, C...
Ora, notadamente, a população brasileira é muito maior de pretos, pardos e pobres, do que de brancos e ricos, e esses últimos, têm condição de estudar em escolas particulares, diferenciadas para muitíssimo melhor do que a rede pública.
No que tange ao desenvolvimento escolar que leva a um sucesso profissional, por exemplo, são um disparate, essas diferenças.
Uma cultura que não se revela ao negro, pardo e pobre, como a sua própria história e à falta de consciência à sua ascendência, e essa ausência dessa consciência a induzi-lo, não a querer apenas se fazer igual, nas aparências do branco e do rico, mas, sobretudo, ser o próprio estigma deles, do ponto de vista do consumismo.
Embora muito lentamente, isso vem mudando, a partir de políticas públicas como a questão das cotas nas universidades. Mas fica uma lacuna ou uma distância em termos de “hand-cap”, haja vista quê, a defasagem na escolaridade que já vem de há muito tempo, determina uma grande dificuldade. Creio que essa questão das cotas deveria ser implantada também para os primeiros níveis com aquiescência e sob o auspício e patrocínio do estado, evitando a defasagem, a que me refiro, embora nas entrelinhas, acima.
Querem que explique isso de outra forma? Então vamos ao exemplo de “estrelas negras” que tiveram ascensão em profissões onde não precisariam de cultura, de escolaridade ou até de instrução e conhecimento geral: Atletas (jogadores), artistas da música e afins. O que determina que a condição econômica associada à repercussão popular – o sucesso que promove admiração e respeito de todas as camadas sociais e econômicas independe da cor da pele.
Os poderes constituídos têm inegavelmente ajudado a mudar esse quadro que nos envergonha, não apenas, a nós brasileiros, mas a todo o planeta. Há, porém, uma maquilagem que tenta esconder o Brasil desse insuportável preconceito, descaracterizando-o como um país caracteristicamente negro, o que o faz uma das nações mais ricas em culturas pela miscigenação das raças, seja pelas origens propriamente ditas, que fizeram e fazem um povo ímpar e único dentre todos os povos, alma & verve.
A História da Cultura Afro-Brasileira precisa ser incluída nas grades curriculares e em todos os níveis de escolaridade para, aí sim, ensinar a importância dessa raça à própria raça e aos brancos, ao pobre e ao rico.
Como brinde, incluo a este script, 02 poemas de minha lavra, que homenageiam o negro e que fazem alusão à sua libertação, desde a escravidão até os nossos dias, incluindo toda e qualquer espécie de discriminação.

I – LIBERDADE, PÃO DO AMOR

Dia longo,
Vida curta,
suor, senzala, amor
- o que restou do desamor...
Esperança na criança
nascer livre, sem temor.

Companheirinha, companheira,
diz, mostra-me a verdade,
você que me conforta...
se algum mal nós fizemos,
foi sem maldade.

Segue em vida procurando
o que em toda vida entregou
desde as paisagens perdidas
às terras com que sonhou
nas áfricas da África, além-mar
nos atlânticos sem par,
da livre ave, o canto quântico...

Liberdade é o bem da vida
Liberdade é o pão do amor
Liberdade, unção remida
Liberdade, sol tutor!

II – LIBERDADE, FRUTA-PÃO

Preso num escuro preconceito,
sem ter norte, rumo ou preceito...
sinto liberdade a pulsar no peito,
máquina de um sonho imperfeito.

Coração torna frutos refeitos em cada ilusão.
estranhas frutas em árvores secas
desabam pecas dos galhos ao chão
- enxovalhos de orvalhos.

Cada fruto é um sonho, é semente
e renasce, mormente, como fruta-pão:
Anima e alimenta, recria e alenta...
Sonho novo é ilusão que aumenta.

Um dia se juntam braços de irmãos,
descascam a batata, a cebola, o limão,
renasce alegria em revolução
e na luta, a tez escura encandeia,
quilombo se torna cidade...
Negrinho se esbalda, acesa dança,
lua cheia no auge do céu clareia.
É a liberdade que engendra a esperança!

A liberdade é um sol
espargindo raios de dignidade
em direção a humanidade!...
Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 14/05/2011
Publicado em 09/06/2011
Código do texto: T2969070
Publicado também no livro “NA PALMA DA CALMA DA ALMA”, Peltier,Fernando, Corpus Editora, Coleção World Art Friends VI, Cidade do Porto, Portugal, Janeiro de 2010.



Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 31/10/2011
Reeditado em 09/11/2011
Código do texto: T3309287
Classificação de conteúdo: seguro