QUANDO?
Estava desenfaixando a minha mente daquelas noites vazias, lembrava-me apenas das nossas caminhadas ao longo do dia. Eu me perguntava se iríamos ficar novamente juntos. Escrevia e tinha como plano de fundo um jardim viçoso, com flores a beijar o contorno dos seus olhos, a cada vez que se abaixavas para sentir de perto o aroma das pétalas. Pétalas que faziam companhia à chuva, esta, junto com as cortinas das janelas abertas, deixava o choro da chuva respingar de nostalgia. E eu continuava a me perguntar:
Até quando?
Até quando?
Apenas o contorno da brisa ou da geada podem tocar-te?
Quando iremos nos reencontrar?
Não percebes que estamos cada vez mais distantes?
A tua foto na nossa mesa da sala tem a magia do teu olhar impregnado nela, nessa noite fria, a tua imagem me traz alegria junto com alguns poemas que estão vagando em minha mente. A tua expressão facial tem a beleza das pinturas dos grandes pintores que compõem a História da Arte.
O teu sorriso parece ter todas as cores exuberantes, reunidas a me encantar, mas
já possuo a tinta do meu orgulho, por saber que eu posso desenfaixar a minha mente daquelas noites vazias, até enquanto eu aguardo por ti.
Mas, vou aguardar...
Até quando?
Até quando?
Não posso suplicar mais segundos de afetos, não me tornaria completamente apto a amar-te. Já que o percurso de um rio segue em uma direção ordenada, ainda que se mantenha em uma desordem de sentimentos,
pois as águas que a natureza deixa caminhar ao longo do dia tem um som avassalador, mesmo que esteja sem companhia, pois, assim, o seu som ficará mais evidente. Assim, reconheço-me esta noite, sem querer recuar e perceber que se não formos solícitos aos sons da natureza, estes podem voltar sem a mesma intensidade. Mas quando irás segurar as minhas mãos?
Não percebes que estamos cada vez mais distantes?
E neste momento ao sentir que chegaste, já posso sossegado desenfaixar a minha mente das indagações e esquecer o
Até quando?
Quando?