Pressão

Vivo pressionada, porque outros decidem minha vida. Não aguento mais. Por anos, eu lutei para conseguir um emprego público, aguentando meu pai me chamando de inútil e dizendo que gente que não estudava a metade do que eu me esforçava passava, o que significava que eu não passava por ser burra. Há algum tempo, ele começou a me pressionar para eu fazer Letras, dizendo que eu aprenderia Inglês de graça. Eu não queria, primeiro, porque não tenho vocação para ser professora, segundo, porque eu não queria passar mais anos me matando de estudar e, terceiro, porque isso faria eu me sentir um fracasso. Eu conheço meu pai e sei que ele, no final, vai dizer que, se eu consegui alguma coisa, vai ser porque fiz o que ele mandou. Ele me pressionou tanto, meu Deus! Ao povo de fora, dizia que eu ficava em casa sem fazer nada, só serviço doméstico. Mas eu ficava estudando para os concursos, aprendendo Inglês e escrevendo nos meus tempos livres, além de ajudar mãe com os serviços de casa. No final, tive que fazer vestibular e entrar no curso,no qual nunca me senti bem. Não se aprende Inglês nem língua nenhuma em Letras, mas a ensinar uma língua. Desde os primeiros dias de aula, eu ficava me sentindo ridícula, por estar fazendo o que outra pessoa queria, por outra pessoa ficar decidindo minha vida. Também ficava me sentindo velha, pois, a maior parte dos meus colegas é mais jovem do que eu. O pior foi que comecei a pensar que, se eu não consegui um emprego era por ser uma fracassada inútil. De nada adiantou dizer a outras pessoas que eu não queria fazer Letras. Diziam que podia ser que fosse meu caminho. Então, eu preciso que decidam as coisas por mim? Eu queria conseguir um emprego por mim mesma, para meu pai parar de me chamar de inútil e de dizer que, quando ele morrer, vou passar fome. Várias vezes, olhei-me no espelho e disse: você é uma farsa. Formar-me em Letras não é vitória minha, mas dele, que sabe que não gosto do curso e diz que sou uma ingrata, que não vejo o que ele faz por mim, que não quero obedecer a ele, que só quer o melhor para mim. No final, a errada sou eu, não ele, que não respeitou meus sentimentos nem como eu me sentia.