Há de chegar um tempo
Há de chegar um tempo
Que vou ler os livros que não li
Que por falta de tempo
Suas páginas ainda não abri
Deixar os sonhos de lado
E fazer existir além da fala
Gritar meus textos calados
Antes empoeirados na estante da sala
Há de chegar um tempo
Em que vou por o pé na estrada
Quer por falta de tempo
Só andei nas margens das calçadas
Vou tirar o terno e a gravata
Jogar no rio os documentos e a velha maleta
Adentrar-me nas trilhas da mata
Sair por essa vida sem precisar fazer careta
Há de chegar um tempo
Em que vou nascer para o novo
Que por falta de tempo
Ainda não acabei de quebrar a casca do ovo
A vida é um trilho de trem
Que tem um começo e um fim
Sou a locomotiva que quer ir além
Daquilo que o mundo miseravelmente reservou pra mim