O 'eu ideal' e o 'ideal de eu'

O 'eu ideal' e o 'ideal de eu'

A moral dita obedece quem tem juízo. Juízo aqui no termo mais apropriado que é aquele que possui a razão em submeter-se ao jugo da moral. Própria? Se fosse, a ética não teria vez, que é a moral aplicada ao indivíduo. A moral diz o que se deve fazer, a ética é a moral aplicada. O que isso tem a ver com o título, muitos perguntariam.... vamos responder.

Há dois jeitos de viver a nossa vida, quer dizer, dois jeito que podemos alicerçar nossa idéia para viver o que vivemos. 1) podemos deixar nossos desejos por cima da razão, ou, 2) podemos colocar a razão acima dos desejos. No primeiro caso há o que chamamos de barbárie, no segundo caso o que chamamos de sociedade. Logicamente o que chamamos de sociedade é o que ocorre hoje com a maioria das pessoas da Terra, mas só forçosamente.

Quem discordaria que vivemos muito mais porque devemos do que queremos discordaria da grande aflição generalizada que ocorre atualmente em todo o mundo. E fazemos o que fazemos porque somos coagidos assim, se não houvessem leis (elas existem porque falta amor à sociedade) o caos estaria deflagrado, e, então, cabe aqui pensar se as pessoas vivem realmente da maneira 1 ou 2.

Em certa medida todos vivem um pouco em cada extremo, temo mais pelos que privilegiam o 1 ao 2. A razão é a única coisa em nós que não está submetida a causas incontornáveis. Somos aquele bolo complexo de influências e afluências que desembocam muitas vezes em atos impensados e improváveis (“nunca imaginei que fulano pudesse fazer isso”). A razão não se submete a essa imposição corpórea e mental. A razão só é razoável na medida em que só se submete ao que é verdadeiro, à verdade.

Muitos de nós vive como se houvesse alguém nos olhando, e se fazemos algo que julgamos esse ser imaginário não aprovasse, nos julgamos por esse julgamento imaginado. Há, entretanto, uma coisa estranha nesse jugo. Pois ele tende a idealizar um ser. Na verdade a petrificar um ser como ideal, aquele que sempre será inalcançável, por ser ideal. Queda. O melhor é aquele ideal e caímos, somos imperfeitos, tentando alcançar o ideal.

Vejamos que, pela lógica da coisa, tratarmos-nos como sobre o jugo do ser ideal que não é alcançável nada mais é que sofrer inutilmente uma ascensão nunca concretizável. Religião. O melhor já está feito, lá no alto. Queda, surgimos e lutamos para chegar onde não podemos.

O ideal de eu nada mais é que essa aspiração a nada que temos, a essa aposta no vazio e inútil. Esse eterno juiz que nada sabe porque é tão distante de nós que não alcança, não toca, e sentimos sua falta. Dor pela ausência de nosso ideal, inexistente. A imaginação, em si, é real. Verdadeira ilusão, ilusão da verdade.

Que verdadeira ilusão? O ideal de eu leva necessariamente ao eu ideal.

Que não existe, nunca existiu e nunca existirá. É um truque mental aplicado no tempo. Faço isso, depois me julgo, não deveria ter feito aquilo que fiz, mas não poderia ter feito de outro jeito. O ideal de eu, o eu ideal, é aquele que sou, que fui, que fez o que fez, mas aqui, sobre o jugo temporal do presente sobre o passado, diz: “não deveria ter feito”, mas já fez e se acha longe do ideal. Sempre se estará, estaremos, longe de qualquer ideal. Compreensão e desespero.

Achar-se sobre o jugo do ideal é achar-se, religiosamente, sempre frustrado, por isso é uma vida de tristeza, com breves momentos de não tristeza, encarados como alegrias ou até felicidade, mas que não é uma felicidade positiva, feita, mas sim negativa, supressão de tristeza.

Qualquer ideal não existe, principalmente um ideal aplicado ao ser. Somente no pensamento religioso, qual sempre está ausente. É tentar achar um sentido para a existência, que por ser tudo o que é, nada pode ser mais do que é, não carece de nada, logo não tem sentido.

Ajamos! Com muito mais amor e compreensão, quanto mais amor maior a compreensão e vice versa. Longe de qualquer ideal, já somos ideais, por não carecermos de nada, somos. Logo somos completos, mesmo em nossas faltas, são faltas concretas, que existem. Cabe aqui o salto. Somos tudo o que podemos ser, nem por isso somos o melhor, ascensão, partimos de baixo, de ser, para um ser melhor e não ser mais.

O ideal não é ser melhor, mas é nunca ser o melhor.

O ideal, já existe, é o que é. A existência é tudo que pode ser e por isso completa, ideal? Só consigo concebê-la nesse âmbito. Não ser o melhor, mas ser melhor. Ser o melhor pressupõe ser no futuro, melhorar. Longitude. Ser melhor é ser aqui e agora, melhor? Como se pode ser. Ideal pressupõe ser mais, não podemos ser mais, se já somos tudo.

Façamos! Se possível com amor, e mais amor possível, que nunca é ideal, é o que é, aqui e agora, ou não é. Só podemos ser o que somos, nunca mais. Compreensão. Desespero? Nada há que esperar, tudo temos a fazer, e se fazemos? Então é isso e nada mais, não há a luz no fim do túnel. Não há bem maior, não há nada além do que já é. E somos.

Simples, e difícil. Luta, trabalho, força e coragem. Ninguém tem coragem antes de ser corajoso. Ninguém é bom antes de ser benéfico. Ninguém é antes de ser. Tudo está aí, sem ideal, sem queda, só há ascensão, agora e aqui, se não, não será, nunca, melhor. Sejamos! De resto, basta sermos razoáveis.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 27/12/2006
Reeditado em 27/12/2006
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