Miséria rica.
Todas as vezes que paro e penso em como minha vida poderia ser diferente e talvez melhor com alguns passos adiados, me conforto em lembrar que se ela fosse diferente seria igual. Igual a da maioria das pessoas. E a maioria das pessoas é uma merda.
Eu poderia estar numa faculdade, poderia estar comprando um carro, um apartamento ou simplesmente guardando dinheiro. Mas não. Escolhi pagar aluguel, conta de água e luz, telefone, internet, condomínio, encanador, eletricista, mercado, e todas as outras inimagináveis contas que surgem fielmente pra me foder durante todos os dias do mês.
O frustrante de sair da casa da mãe (sim, casa da mãe e não dos pais pois pelo menos nessa de ter pais separados eu sou bem fiel à minha geração) aos dezessete, em busca de liberdade e independência é ver que essa porra não existe. E que a única pessoa que pode tirar minha liberdade de mim sou eu mesma, como eu não deixei de fazer por não haver ninguém me dizendo o que e como fazer.
Mas eu vim.
Com a cara e sem a coragem.
Na verdade, acho que vim em busca dela.
Vim pra uma cidade fria onde todo mundo tá cagando pra o que acontece com o próximo e com a si mesmo. Onde nada é de verdade, só o cinismo.
Poderia estar dormindo, pobre e fodida, esperando minha avó preparar o café e me chamar pra ir pra faculdade ou qualquer outro curso idiota. Usando fones de ouvido grandes e idiotas ao som de alguma banda de rock mais idiota ainda.
Mas seilá, ser pobre, fodida e muito orgulhosa mesmo que sem os fones e, ao som de lágrimas é bem mais interessante.