Atirador de Pedras

"Construí meu castelo/ Com as pedras que eu te atirei" (música "Corvos sobre o campo", da Banda Tantra, inspirada no filme "Sonhos", no sonho "Corvos", do diretor Akira Kurosawa)

Sim. Atirei pedras contra todos. Não que eu não tenha telhado de vidro. Eu nem tenho telhado. Não tenho defesas. Minhas fragilidades estão expostas. Enquanto os outros permanecem protegidos com seus telhados invisíveis. Eu atirei as pedras. Acertaram em cheio. Mas, não. Devolveram-me as sorrateiramente. Falsos telhados de vidro não possuem vidro, não quebram, não são translúcidos. Do outro lado não se vê. Assim, restou a mim recolher as pedras e com elas fazer um Castelo imponente. Inútil. Os outros nunca vão atirar pedras em mim. Nunca irão reconhecer que são frágeis. Mentira, muitas pedras acertam-me pelas costas. Não quero saber quem foi. As pedras só aumentam minhas defesas. Minha fortaleza com paredes grossas e muro alto. Sem telhado. Os cacos estilhaçados no chão do meu castelo cortam minhas estranhas, que são a minha alma. Eu choro. Ninguém me ouve daqui de dentro. Ainda bem, não sou daqueles que gostam de demonstrar o que sentem. Eu grito no abismo de mim. Aqui dentro é um lugar imenso, onde se pode cair sem se vislumbrar um fim, ao menos. Tão forte e indefeso. Tão imenso e insignificante. Agora, cansei-me de atirar pedras, de fortalecer-me. Sobretudo, estou farto de jogar pedras em cavernas obscuras, só pra mostrar que lá moram bichos selvagens, morcegos, ursos, cobras, aranhas, lobisomens, etc. No meu castelo há um lago de águas límpidas e geladas onde meus Monstros nadam sem que haja qualquer dúvida de suas existências. Entrar nele? Sem portões. Apenas as pedras passam. É preciso ferir-me primeiro, disfarçado de pedra. E encaixar-se como peça de quebra-cabeça no buraco da parede, o mesmo buraco pelo qual me afundo... pelo qual eu consigo sair e atirar pedras nos outros... pelo qual a violência escapa-se descontrolada... Não! Não falo de uma pedra exata, específica... pode ser qualquer pedra, mas que tenha a capacidade de liquefazer-se e solidificar-se na forma que quiser, uma pedra mole... lânguida, lasciva e lúbrica... que deixe a água passar facilmente e depois consiga se recompor, lenta e leve e vaga... e quanto ao telhado? O meu telhado não é o céu, nem as estrelas, nem todas as galáxias... o meu telhado é até onde meus cabelos alcançam, sou um corpo. Não fujo de minha faticidade. Enquanto escrevo isso, permaneço sentado, parado. Nada de ação concreta. A vida permanece a mesma. Não estou ganhando dinheiro com isso, não estou fomentando meu "cu-rículo", nem sequer estou arrumando uma trepada com isso... parado. Eu inventei a máquina de parar o tempo. Só esqueceram de dizer a Cronos sobre essa minha descoberta ridícula... envelheço sem perdão. Pra ser sincero, parei faz uns 7 anos. Mas... porque mudei tanto o fluxo disso aqui? Porque minha trilha sonora é variada... pula de Núbia Lafayette à Metallica... bruscamente... e assim, bruscamente, termino isso. Sad. But true...

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PS: Caralho, tentei escrever algo relacionado ao filme de Kurosawa, mas fui levado pela minha trilha sonora brega e trash... adoro-a!!! Ahuahuahahauhahauhuauhauhaauuuu!!!!

Cephas
Enviado por Cephas em 15/10/2011
Reeditado em 16/10/2011
Código do texto: T3278410
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