Tson Fél Ál
Uma sexta-feira de merda - típica - onde até uma masturbação não dá certo. Quisera eu que Malthus estivesse certo - eu não precisaria passar por isso. Falhei com tudo, e transcendi a minha capacidade de falhar ao não conseguir apreciar a solidão. Ou é a solidão que desaprendeu a me apreciar, acariciar. Derrubar. Sapatear sobre, chutar na costela, nos dentes. Sexta-feira, sentindo-me inóspito em meu próprio quarto. Hostilizado por uma barata intrusa que abarcou num copo de café de fresco que guardo há dois anos no guarda-roupa sem saber por quê. Sexta-feira de um ano de dentes arrancados, ossos quebrados e hemorragia nasal semanal. Ano de abandonos e de preguiças, de conquistas e reconquistas. De perdas e decepções, sobretudo. Varridas pra debaixo d'algum tapete que esqueci a cor. Mas de cor eu sei a dor. Sexta-feira invertendo a entropia dum globo transparente remetente ao castigado Planeta Terra; seus pedaços de terra ásperos e acinzentados. Porra, daria tudo por uma mulher aqui agora, mesmo que com um sutiã com cubos mágicos no lugar daqueles ganchos que fecham a coisa toda. Raspo a unha no que penso ser a Namíbia e tento mensurar a imensidão da minha desinteligência. Exponho o Pólo Norte diante dessa lâmpada fraca do meu quarto de derrotado e provoco tsunamis. Um pernilongo pousa no México. Depois voa e me chupa, enquanto mamo a quinta garrafa de cerveja e bisbilhoto-o de canto de olho. Tulipas do jardim da Casa Branca, rolos de feno e campos de girassóis na Itália - qualquer coisa seria melhor do que pernilongos querendo me defenestrar daqui, do meu covil de abandonado piegas. Um pouco de terra, entende? Não de poeira nos olhos. Um pouco de cheiro de lenha queimando, entende? Não de carburadores furando. Um pouco de opressão da solidão, não da supressão da solidão. Palavra oca, esta. Sexta terrível, que se foi. Com ela meu sono foi levado. E trazido. E me nocauteia aqui e agora.
15/10/2011 - 02h07m