A fundamental importância de cada um
Durante uma esplêndida reunião "sushiana", um amigo afirmou, por comparação ao actual estado caótico das estruturas sociais, que o sistema organizativo mais perfeito que existe à face da terra é a natureza. Nem mais! E que essa funcionalidade exemplar pode ser admirada em qualquer ecossistema selvagem; leia-se onde o homem ainda não pôs a mão.
E porquê?
A explicação dele pareceu-me tão simples como poderosa: porque todos os seus elementos, absolutamente todos, prestam, em trabalho, o seu contributo para o funcionamento do sistema.
Desde há muito que me fascina pensar no milagre da natureza. Chamo-lhe milagre por razões que se prendem com incompreensibilidade da criação. O supremo mistério da existência! Quando me disponho reflectir sobre o surgimento do universo, do planeta terra e, principalmente, do seu habitante humano - e, como é óbvio, do meu! -, não raras vezes, sinto o cérebro entrar em curto circuito.
Talvez o mistério da criação esteja destinado à incognoscibilidade. (E isto justifique os sucessivos naufrágios das teorias explicativas de base científica e filosófica que, ao longo dos séculos têm procurado afirmar-se.)
E talvez não precisemos realmente de o conhecer. Talvez precisemos apenas de descobrir o dom que o criador de toda esta complexa, mas deveras magnífica, organização inscreveu nas nossas vidas e exercê-lo com devoção.
Por mais insignificância que a tarefa possa evidenciar, não esqueçamos que a perspectiva individual, alcançada no plano horizontal, espacialmente limitado, está longe de ser a real.
Dito isto.
As sociedades não podem continuar a segregar, substituir ou alijar a responsabilidade de alguns dos seus elementos, porque, ao incutir nestes o sentimento - consciente ou inconsciente - de inutilidade, geram a entropia. (Não são exemplo bastante, as recentes escaramuças urbanas do Reino Unido?!)
Parece-me fundamental aceitar a ideia de que cada um nós é importante ao todo; e que, sem excepção, somos convocados a exercer um contributo essencial ao bom funcionamento do sistema.
O conceito pode parecer simples, mas está longe de ser simplista. E tenho para mim que, se teimarmos em distorcê-lo, a estrutura da humanidade acabará por colapsar.
A recuperação da consciência do poder/dever pessoal perante o todo, pode ser o verdadeiro ingrediente da mudança. Que poderá, quem sabe, conduzir-nos à nova etapa da evolução.
Por isso, não podemos esperar que mãos alheias exerçam a nossa acção. Não podemos abdicar do nosso tempo aqui...
Importe-se com a sua importância!
Blog da autora:
http://mundodasnoitesbrancas.blogspot.com