Contradições Humanas
Estereótipos. Sogras são terríveis. Cunhados são aproveitadores. Esposas só são legais enquanto estão sob controle. Se é assim, então por que as pessoas casam? Buscando alguma estabilidade? Ou segurança? Apenas para depois reclamarem da rotina, ou compararem a pessoa que escolheram com as outras que passam pela rua, e que parecem tão mais bonitas, simpáticas e interessantes?
Dizer que os humanos são contraditórios não é novidade, mas deve haver alguma razão para serem tão masoquistas. Ora, reclamar que a vida é uma droga, que o trabalho é sem graça e que seu casamento não realiza é fácil. Qualquer um que conheça algum idioma é capaz de fazer isso. No entanto, as situações não são boas ou ruins aleatoriamente, e não somos meros bonecos arrastados pelo vento ou marionetes controladas pelas mãos do Destino. Limites existem, óbvio, mas no fundo somos nós que tornamos as situações boas ou ruins. E podemos consertar aqueles “terríveis e imensuráveis” problemas do dia-a-dia, que na verdade talvez só precisem ser vistos de um novo ângulo.
Não pretendo ser melosa. Nem otimista demais. Pelo contrário, costumo tender acentuadamente para o lado do pessimismo. No entanto, certas coisas são evidentes. A mania de complicar coisas simples é uma delas. E a de querer exatamente o que não se tem também. A vida passa, sim, mas não é apenas um cronômetro em contagem regressiva, esperando que fiquemos velhos, cheios de rugas e falando mais de remédios do que de qualquer outro assunto. A vida é uma coleção de momentos que construímos, de escolhas que fazemos, e de variáveis que tornam esses momentos e escolhas melhores ou piores. Resumindo, é uma caixinha de surpresas, cujas tristezas e alegrias podem deixar um saldo bastante positivo no final. Ou não. Mas, lá no fundo, isso é a gente que decide.
Os humanos buscam a felicidade das mais variadas formas. E, ironicamente, estragam sua própria felicidade de maneiras ainda mais criativas. Não sei se por egoísmo, teimosia, ingenuidade ou indiferença mesmo. Mas o interessante no meio disso tudo, é que existem pessoas legais, e até mesmo momentos legais com pessoas que não são tão legais assim. E isso devia valer a pena. Alguma coisa no meio de todas essas contradições deveria mesmo valer a pena. Afinal, estamos vivos, e por si só isso já deveria ser grande coisa.
Hoje é o dia da criança. E, sabe, o bom de ser criança é que estamos livres daquele “peso da realidade” que os adultos parecem carregar, e que repassam à nova geração quando esta começa a ser apresentada às responsabilidades do “mundo real”. O triste é que, muitas vezes, esse peso sufoca os sonhos da juventude. Sonhos que nem sempre são tão tolos e inconsequentes quanto podem pensar os adultos, que já viveram tanto que correm o risco de esquecer que as coisas podem ser diferentes do que são. Que elas podem melhorar. Que, mais do que carregar o peso do mundo, podemos fazer algo para deixá-lo mais leve. Idealismo? Talvez. Mas por que a tendência das coisas tem que ser sempre piorar? Se as pessoas parecem tão boas em estragar tudo, será que não conseguem consertar também? Por que os acertos têm que ser passageiros e os erros, irreversíveis? Por que não podemos acordar, olhar para o céu azul em um dia de sol, sentir a brisa leve e sorrir, ao concluir que a vida pode ser boa mesmo com todos os problemas?
Às vezes, a vida pode parecer uma droga do nada. Do nada mesmo, sem nenhum motivo aparente. Mas outras vezes, também pode parecer maravilhosa pelo mesmo motivo. E essa imprevisibilidade deixa a vida mais divertida. Nem tudo precisa ser programado. Ou sou a única a achar que as melhores coisas que acontecem vêm de surpresa? Que é sufocante ficar preso a uma rotina fixa demais?
Não sei. Há um monte de coisas que não sei, e duvido que encontre as respostas tão facilmente. Mas há certas coisas que precisam ser ditas, não importa nos ouvidos de quem elas venham a parar. Afinal, é melhor ser odiado por palavras ditas do que falsamente amado por pessoas que não sabem o que se passa em sua mente. Não importa. Às vezes as coisas são simples, mesmo que as consequências não sejam exatamente boas.
Então, só espero que nesse dia das crianças, as pessoas se lembrem dos seus sonhos e daquilo pelo que vale a pena viver e que, depois disso, não se esqueçam nunca mais dessas coisas que fazem da vida uma coisa legal. Mais que legal, uma coisa maravilhosa, e que jamais poderá ser repetida. Que nunca se esqueçam que, mesmo naqueles momentos em que parece que não podemos fazer nada, ainda temos o poder de escolha. Que às vezes devemos mudar de tática antes de desistir de um objetivo só porque ele parece estar causando dores de cabeça demais. Que ser adulto não é esquecer a ingenuidade do tempo de criança, ou a rebeldia da adolescência, mas lembrar que tudo isso faz parte de nós, e que toda experiência é válida.
Enfim, feliz dia da criança a todos. A TODOS mesmo. Principalmente aqueles que esqueceram seus sonhos, pois são os que mais precisam ser lembrados dos bons momentos.