ILUSÃO



A lua cintila uma luz que não é sua, e nem por isto é menos bela.
No céu ela parece majestosa.
Em nossa mente reluz indiretamente seu poder.
Em nosso imaginário ela brilha como um símbolo de beleza e pureza.
 
Mas a lua ousa em nos brindar com uma luz que mesmo não sendo sua, nos encanta.
 
Sou um pouco, ou mesmo muito, como a lua. Não possuo luz própria, mas me esforço em reluzir o brilho de humanidade, que latente em mim, muitas vezes por preguiça, vaidade e displicência, acabo esquecendo.
 
Não preciso ser gênio para perceber que a sociedade que se diz humana e que ajudo a manter é uma podridão, onde raros exemplos de dignidade humana realmente existem, e onde encontramos bolsões de falsa dignidade, de ilusória justiça e de vaidosos “Homo Sapiens” que se julgam dignos e humanos. Posso gritar aos sete ventos mil desculpas e motivos para repassar a culpa deste estado de degradação de nossa sociedade para os outros, posso tentar convencer a mim e aos outros que não tenho culpa direta desta situação, mas é pura brincadeira de palavras, a sociedade é reflexo de todos nós, se me omito já sou tão conivente quanto aqueles que dela se aproveitam, se repasso a salvação para alguma entidade superior sou tão mesquinho quanto aqueles que dela se locupletam posto que não tomo posição e não luto por uma transformação desta sociedade.
 
É pura ficção acreditar que a sociedade não é culpa nossa. Infelizmente porque todos pensamos de alguma forma aderente aquele raciocínio de que nada podemos fazer, que posso me aproveitar dos louros e lucros de forma digna uma vez que não possuo culpa na exclusão de imensa parte da população, é que ela ficou assim.
Podemos romancear que não temos culpa alguma pela miséria e pelo abandono social de milhões, podemos fantasiar que somos exemplos de vida, que somos dignos, justos, éticos, agora é puro delírio de egocentrismo nos vermos acima da sociedade e imaginá-la como um objeto estranho e submisso a nós mesmos, é um pouco por causa disto tudo que esta sociedade é vergonhosa, podre, nojenta e desumana, não obstante termos a falsa certeza de que somos humanos.
 
Sinto vergonha de mim mesmo e revolta de cada “ser humano” que se crendo exemplo de dignidade se omite e acaba culpando os próprios excluídos por sua pouca fé e esperança. 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 09/10/2011
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