Porque buscaria alguma justiça social



Mais uma vez hoje, fui brindado com uma colocação que de repetitiva, não mais me incomoda.
Em uma conversa informal, na hora do almoço, apesar de evitar este assunto pelo preconceito que alguns ainda possuem, não tive outra alternativa a não ser a de me posicionar como ateu e a favor do social, e mesmo unicamente pela dignidade humana, independente de qualquer ética ou obrigação divina. Sendo ateu, para mim simplesmente não existem deus ou mesmo algo transcendental. Instante depois veio a pérola a que me referi inicialmente. Ela geralmente versa sobre o mesmo assunto, e no geral é assim:
“Você está mentindo, buscando apenas parecer bonzinho. Porque você haveria de buscar alguma justiça social, e não tão somente aproveitar ao máximo os prazeres e bens materiais, já que sendo ateu tudo lhe é permitido. Sendo ateu não há limites à sua vontade, simplesmente porque você não crê em moral de deus, não crê na bíblia, não crê em continuação da vida ou mesmo retorno a esta, e não crê em deus e nem em sua justiça?”
 
No início me magoava com esta colocação, hoje apenas me envergonho com a idéia de ser irmão em espécie de pessoas tão pequenas quanto ao valor de importância que dão ao conceito de vida. Acho simplesmente chata esta colocação que repetidamente me fazem, em especial os mais dogmáticos ou fundamentalistas na crença de um deus conforme escrito nos seus livros sagrados.
 
Quando estou mais agitado e de paciência no limite, retruco de forma quase que grosseira afirmando que o problema deles é tirar os outros por si próprio. “Se vocês são frouxos, mesquinhos e falsos o bastante para agirem de forma social e humana apenas e unicamente por temor, medo, ou interesses, limitando ou fingindo suas ações e pensamentos na busca de favores ou preferências divinas é problema de vocês. Se vocês visando conseguirem benefícios ou simplesmente para colecionarem seus bônus para terem direito a alguma vida posterior, agem de forma forçada e não natural é problema único de vocês e não pode significar que todos os outros, incluindo-me nesta lista, somos também mesquinhos e falsos o suficiente para agirmos movido por interesses próprios ou por temor.”
 
Eu busco uma justiça social porque:
Todos são tão humanos quanto eu.
Não sou melhor do que ninguém.
Pelo menos porque se uma justiça social for alcançada teremos mais paz, harmonia e felicidade geral, possibilitando assim que no final eu possa ter também uma vida melhor.
Talvez também, porque diferente de vocês que me questionam, aprendi que o amor não é divino, mas humano, aprendi a buscar o amor que por definição significa doação, entrega, construção de uma dignidade humana e social. Aprendi que devo construir este amor continuamente, não em relação a mim próprio, mas em relação aos demais, em especial aos excluídos sociais. Por isto busco alguma justiça social como meta de vida, e não por cobrança ou benevolência superior.
Talvez mesmo porque a vida dá voltas, e o fato de que hoje eu não esteja do lado dos abandonados e excluídos, não significa que amanhã eu lá possa estar, ou que esteja lá alguém que me seja muito importante.
Busco uma justiça social porque a natureza é de todos e não é justo que alguns se apoderem da produção e das riquezas que vem desta mesma natureza, enquanto a outros caibam apenas as sobras, ou mesmo nada sobrem para estes.
Porque somos seres sociais.
Hoje tenho pelo menos mais dois motivos para buscar uma justiça social, meus filhos, a quem devo exemplos e ensinamentos.
 
O fato de ser ateu não me faz melhor nem pior do que ninguém, o ateísmo não é uma filosofia de vida, e simplesmente uma não crença em um deus teista.
São meus atos, comportamentos e a ousadia de minha luta que me define como humano ou como um ser social.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 07/10/2011
Código do texto: T3263496
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