Coleção dos diários nunca lidos. IV
"[...] Dizem que tenho senso de humor e eu custo a acreditar. O interessante é que as vezes consigo arrancar algumas gargalhadas das pessoas. Foi quando me lembrei de um homem que há muito tempo me falou que os que mais sorrisos dão, mentem sem escrúpulos. Que o sorriso exacerbado é simplesmente reflexo do nervoso constrangedor de uma agonia constante. Que é uma casca, uma farsa, uma encenação. Foi aí que eu me toquei, que percebi o sentido das coisas, meu jeito de enganar e derreti no meio daquela poeira branca, empurrada pelo vento; era o dia mais solitário da minha vida. As pessoas passavam devagar ao meu lado, alheias com seu próprio frio. O cigarro queimava a ponta do dedo. Não sentia mais nada. (Quase) Todas as sensações haviam sido banidas de mim..."