Eu te odeio.

Eu odeio o seu olharzinho eu-sou-novo-mas-eu-sei-de-tudo. Eu odeio você porque você se contenta com pouco e a vida é grande demais pra isso. Eu odeio você porque às vezes você simplesmente não enxerga as pessoas.

Te odeio porque sim.

Odeio o jeito como tudo seu é maior, mais importante, dói mais. Odeio isso que você tem de fazer a sua vida o centro do mundo. Não é, sabe. Há coisas bem maiores.

Eu odeio quando você pensa que nunca mais vai ser como antes. Era como antes? Odeio essa sua mania de deixar tudo certinho antes-agora-depois. Odeio essa sua mania de deixar tudo certinho sempre.

Odeio quando você começa a discursar sobre a importância de ajudar, mesmo quando o que mais te chateia é a forma como você não consegue fazer tudo perfeitamente 20/09. Odeio a sua falta de atitude, a sua falta de coragem. Odeio os seus medos.

Tenho horror desse seu jeito protetor, desse seu jeito sou onipotente sim, e daí?. Na verdade, eu odeio mais o fato de você não ser onipotente e continuar falando comigo apesar disso.

Odeio a sua falta de sonhos grandes, a sua falta de iniciativa para realizá-los e os seus diários que são recheados de coisas impossíveis por sua culpa.

Eu de-tes-to quando você diz que tá tudo bem, porque no fundo você sabe que não tá tudo bem e você sabe também que nunca vai ficar, porque você é um ser humano e há coisas erradas acontecendo sempre e conflitos internos que você nunca vai conseguir resolver, por mais que tente, e mais coisas e mais e mais.

Odeio você porque você nunca usa o ponto final.

Odeio você porque às vezes você não se contenta com pouco, fica sempre querendo mais, sempre achando que as coisas podem ser melhores. Porra, às vezes não dá, pra alguns, a vida não é perfeita e temos que aturar isso, já que não moramos em filmes americanos. Odeio o seu jeito de querer fazer de todo sofrimento uma lição, porque chorar simplesmente é muito bom quando dá.

Eu tenho raiva do seu jeito legal sempre. Às vezes eu queria que você se impusesse mais, tivesse mais coragem pra dizer e fazer o que pensa, sem vergonhas, sem medos. Odeio isso de ter que dar satisfações pros outros seis bilhões de habitantes da Terra antes de tomar uma atitude que, no fim, só vai afetar a sua vida. Odeio a sua mania de centro de pesquisa, que quer coletar a opinião de toda alma.

Em suma, eu odeio você porque você é muito igual a mim às vezes.