VERDADE?



Eles conseguem entender o que sequer consigo perceber.
Eles conseguem perceber o que sequer consigo imaginar.
Eles conseguem imaginar o que sequer consigo crer.
Eles conseguem crer o que sequer consigo pensar.
Eles conseguem pensar o que sequer consigo entender.
 
Não sou dono da verdade
E nem desejo sê-lo
Não desejo apenas brincar de viver
Mas sim de realizar a vida múltipla, real, complexa e social que nos cabe.
 
A verdade?
Jamais a conhecerei em sua totalidade
Por mais que tenha vontade
Assim resta-me viver
Realizando a minha humanidade.
 
Verdade! Esta arredia percepção
Verdade! Esta complexa ilusão
Verdade! Esta contínua perseguição.
 
Eu busco a verdade
Muitas vezes pela refutação
Cada mentira que refuto
Me deixa mais perto da real verdade
Pois só existirá verdade onde existir realidade.
 
Talvez nunca chegue a conhecer esta real verdade
Mas e daí?
Continuarei a buscá-la
E refutando mentiras continuarei.
 
Mesmo com algumas provas
Tenho dúvidas
Enquanto outros sem provas nenhuma
Têm a certeza de conhecer a verdade.
 
Os deuses são mais gratos para com eles do que para comigo
Falta-me talvez inteligência e perspicácia para conseguir ver o que eles veem
Sentir o que eles sentem
Crer no que eles creem
Perceber enfim o que percebem.
 
Alguns afirmarão, na certeza que o transcendente lhes deu
Que falte sim é simplicidade e talvez mesmo humildade
Sinto muito por estes
Prefiro seguir realizando minha humanidade
Assim sobra-me apenas continuar a viver
E a amar o imanente
A amar a vida
A amar o social
A amar o que é natural como eu
A mostrar minha reverência pela natureza
A mostrar meu amor pelos vivos
A mostrar meu respeito pelo social
A mostrar minha revolta frente a uma sociedade que no geral busca a sua salvação individual.
 
Prefiro continuar a amar o real e a me expor contra tudo e todos que dão mais valor ao transcendente, que preferem colecionar bônus visando um momento futuro. Eu prefiro a realidade de uma única existência, desde que valha a pena viver a plenitude de minha humanidade frente a necessidade de um social justo e digno.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 01/10/2011
Código do texto: T3252353
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