Maresia

O barulho das ondas ecoam na minha cabeça, arrastando consigo o teu nome cravado excruciantemente no meu ser. O sossego dos oceanos sucumbe ao tumulto do vento que, frigidamente, me rouba a voz e me afugenta as palavras.

Seguiu-se um amargo silêncio e uma neblina cerrada. A maresia trouxe consigo uma paz em tempos perdida enquanto acalmava o vento.

Oh doce maresia, leva-me até ao seu cais para que nos possamos ver mais uma vez... como anseio pelo seu toque, pelo som da sua doce voz esquecidos algures.

Estas águas arrastam consigo as lágrimas das ninfas e, vindo de um local talvez inexistente, consegue-se ouvir o seu choro, uma melodia que não me sai da cabeça.

Gotas trazidas pelo vento tocam-me na cara, como agulhas de gelo.

Vejo-te de longe, permaneces imóvel. Uma expressão completamente vazia, transparecendo ao mesmo tempo uma lucidez infernal. Danço com a tua alma, quero tomar o teu lugar. O tempo, abstraído da nossa silenciosa presença, não nos chama. Ele pertence-nos.

Mas agora tenho que ir. A maresia chama por mim.

Hugo Ricardo
Enviado por Hugo Ricardo em 01/10/2011
Código do texto: T3251288
Classificação de conteúdo: seguro