AS MUDANÇAS DO SER HUMANO

Lembro-me de detestar vinho! O sabor amargo e o cheiro fortemente alcoólico e “nauseabundo” eram demasiado agressivos para o meu palato e olfacto sensíveis (até então habituados a sensações mais neutras). Hoje declaro, com a serenidade própria de quem nunca se embriagou, que o néctar do Deus Baco é, a seguir à água, a minha bebida preferida. Um bom vinho cor de rubi, de carácter forte e vagamente perfumado com notas de carvalho, chocolate e frutos vermelhos, tomado num elegante copo de cristal, é para mim sinónimo de felicidade.

Este twist leva-me a pensar no quanto mudamos ao longo da vida e na capacidade adaptativa do ser humano. Impressiona perceber que algumas das coisas que tivemos por odiosas se transformaram em objectos de prazer e vice-versa; e que circunstâncias ou pessoas desagradáveis acabaram por se revelar muito especiais (embora outras tenham caminhado na direcção oposta).

Significa isto que, na sua essência, a adjectivação que sobrepomos aos acontecimentos que nos abarcam é eterna enquanto dura. O mesmo é dizer que o seu valor é meramente relativo.

A nossa consciência da relatividade perde-se frequentemente no terramoto emocional que os acontecimentos ou pessoas nos provocam. E, não poucas vezes, a duração da atribulação estende-se por tanto tempo que, a dado momento, acreditamos que é impossível modificar. A qualificação penetra o nosso sistema de hábitos e ganha um estatuto inatacável. Quantos “ódios”, “amores”, “processos de vida”, “medos”, etc., não cultivamos já, como se estivéssemos condicionados por uma força intransponível.

Quem nunca se sentiu escravo do bom/mau, certo/errado, pecado/virtude... E quantas vezes, observando em retrospectiva, percebeu que estava errado. Que o mestre, chamado Tempo, o tinha auxiliado a alcançar uma visão e significação diferente do passado. Concedendo, com isto, a possibilidade de transmutar os acontecimentos numa aprendizagem de novas capacidades, aptidões, prazeres...

Por isso, recuso-me a desprezar, como más, experiências que se me apresentam desconfortáveis, dolorosas ou mesmo chatas. Acredito que atravessar o seu caminho me dará mais sabedoria. Nem que mais não seja para evitar perpetuar situações que não me engrandecem enquanto ser humano ou para melhor apreciar o bom e o especial que a vida tem para me oferecer!

Saúde!

olinda morgado
Enviado por olinda morgado em 27/09/2011
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