Cão
Pareço-me com um daqueles cães sarnentos de rua que perderam as esperanças de conseguir um bife fresco e uma casinha quente pra raspar as unhas; daqueles que não se importam com as pedradas que levam e das desgraças que os aguardam. Foi-se o tempo que eu, tímido, expunha minha barriga e nela urinava ao mínimo toque. Ai de mim! Depois veio a fase que, vendo que primeiro davam o carinho e depois o chute, passei a rosnar, mostrando meus afiados dentes, afugentando para bem longe de mim tudo o que poderia vir a me ferir. Durante um longo tempo vivi correndo atrás do meu próprio rabo, na falta de coisa melhor pra fazer. E o tempo, como há de ser, foi passando. E hoje sou o que sou: esse cão taciturno, modorrento, que pouco sente e menos ainda se importa.
20/09/2011 - 00h05m