Cão

Pareço-me com um daqueles cães sarnentos de rua que perderam as esperanças de conseguir um bife fresco e uma casinha quente pra raspar as unhas; daqueles que não se importam com as pedradas que levam e das desgraças que os aguardam. Foi-se o tempo que eu, tímido, expunha minha barriga e nela urinava ao mínimo toque. Ai de mim! Depois veio a fase que, vendo que primeiro davam o carinho e depois o chute, passei a rosnar, mostrando meus afiados dentes, afugentando para bem longe de mim tudo o que poderia vir a me ferir. Durante um longo tempo vivi correndo atrás do meu próprio rabo, na falta de coisa melhor pra fazer. E o tempo, como há de ser, foi passando. E hoje sou o que sou: esse cão taciturno, modorrento, que pouco sente e menos ainda se importa.

20/09/2011 - 00h05m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 20/09/2011
Código do texto: T3229696
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.