Domingo

Hoje acordei sozinho, mas tão sozinho que nem o sol ainda tinha aparecido para dar o ar da graça por aqui. Ri dessa situação e comecei a reparar no dia que vinha surgindo, que alguns apelidam de domingo, e vi que não tinha dia melhor para estar sozinho.

Sentei na cama e vi pela janela como o sol vinha surgindo por de trás do horizonte, meio tímido, talvez até inseguro de não ser a hora certa de ele aparecer ou até sem graça por talvez acordar alguém antes da hora.

Vi os tristes e secos prédios dessa cidade completamente perdidos ao receber aquelas primeiras luzes da manhã, suas janelas refletiam feixes de cores preguiçosas e debochadas em todas as direções como se estivessem se esticando, se espreguiçando. Notei como esses prédios acordaram sem saber ao certo porque ali estavam, ai se recordaram e ali mesmo ficaram, cinzas, melancólicos e imóveis.

Vendo a manhã nascer assim preguiçosa sem muita luz e sem muito calor, tento me lembrar porque acordei tão cedo, não consigo pensar em um bom motivo e então volto a dormir.

Sonho que estou num campo aberto, com grama fresca sob meus pés descalços. Completamente sozinho.

Acordo e volto a reparar nesse dia engraçado, o sol já tem certeza do que está fazendo e brilha forte tentando acordar a todos. Para os que já acordaram ele parece brincalhão e convidativo, já para os que insistem em continuar descansando ele parece inconveniente e repulsivo.

Dou risada ao perceber que mesmo o sol se esforçando tanto, o dia aqui embaixo continua frio e o meu café insiste em esfriar antes que eu acabe de bebê-lo. Até parece que o sol soube que estava rindo dele, que ao chegar o meio-dia se esforçou ao máximo para aquecer a vida aqui embaixo.

Depois do almoço, percebo como as horas se arrastam para passar, como se o tempo já estivesse cansado de passar por ali por tanto tempo. Sinto como o vento parece brincar como um cachorro de rua: corre para um lado o mais rápido que pode, ai se cansa e vai mais devagar, depois começa a correr de novo, para, tenta se lembrar pra onde estava indo e começa a correr na direção contrária.

A tarde passa despretensiosa, nuvens aparecem para brincar com o sol que cansado vai se deitando no horizonte, e ao chegar, parece olhar por cima dele, e lançar aos céus as mais variadas cores, pensando que assim alguém vai sentir falta dele depois que ele se deitar completamente. Lançando seu último suspiro de luz em tons maravilhosos, fazendo suspirar casais em mirantes maravilhados com o desespero do sol ao se por.

Mas parece até pirraça, mal o sol se põe e já me aparece uma lua risonha no céu, trazendo com ela o mesmo vento brincando, só que dessa vez mais frio e tenro, fazendo casais se abraçarem, e os solitários se encolherem. Me encosto e vejo o céu com suas estrelas pálidas e sem jeito, brilhando enquanto são encobertas por nuvens que parecem surgir da própria escuridão do céu.

A noite passa como se estivesse fazendo carinho e te acalmando para você ir se deitar... e assim o faço.

Deitado, noto que esse dia tão estranho já se foi, e assim começa uma garoa, são as primeiras horas de segunda-feira chorando por serem as mais esquecidas da semana. Sinto essa garoa lavando as lembranças e sentimentos esquecidos nas esquinas desse domingo, me deixo perder nos sons vagos e perdidos.

E assim durmo, sozinho...

Daniel Bassani
Enviado por Daniel Bassani em 18/09/2011
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