A porta
A porta estava aberta! Não deveria... Se estivesse fechada como eu preferia que estivesse seria mais fácil, não ia passar pela minha mente a ideia de fugir, mas a maldita estava lá, escancarada, só havia entre nós um curto espaço. Em compensação permanecer, não se mover e não calcular meus próximos afazeres era longo, longo até demais, se prolongou ao instante em que pensei que poderia sair e ser livre, que poderia fazer coisas que até então não me era permitido. Foi me dado a chance, bastava sair e quem sabe rezar para que tudo desse certo. Bastava tentar para entrar em definitivo contato com a liberdade.
Ninguém via. Se não fosse por aquele monte de cerca, diria que estava sozinha.
Talvez fosse uma armadilha. Que medo! Que tristeza. Mas não havia de fazer sentido capturar alguém que já estava presa. Só mais alguns passos e deixaria de estar.
O juízo já havia ido, chamava por mim no lado de fora. Minhas mãos estavam tremulas, a sensação de indecisão pairava dos pés a cabeça. Simples demais!
A pergunta era a mesma: “Por quê? Por quê?
Eu deveria ir. Mas era o melhor a fazer? O melhor seria que esta porta estivesse trancafiada! Por que uma maldita porta ia dar chances para alguém tão medrosa desperdiçar?
Ela nada dizia. Não respondia as minhas perguntas. Talvez sequer as ouvisse, estava lá.
O arrependimento de fazer e de não fazer já me envolvia. Nada que eu fizesse era totalmente satisfatório. Nada, absolutamente nada! Não era pra eu estar ali.
Se eu saísse para onde iria depois? Perder-me num mar de angustias ou coisa parecida? Filosofar inspirada nos céus? Se eu fosse não me seria permitido voltar... Só por isso não fui! Devia sofrer seriamente consequências por ter pensando em sair. Devia ser castigada a chicotadas, mas fui perdoada já que minha fragilidade não suportaria tal castigo, o de nunca ter existido.
Virei, fiquei a esperar que ela fechasse. Não!... Não!... Não!
Aquele era o meu lugar. Aquele meu olhar vago, aqueles pensamentos tontos, um sentimento complexo, inexistente em qualquer pessoa que eu visse.
A porta por mais escancarada que estivesse já não importava. Eu quase não a via, a única coisa que me prendia a concentração agora, era uma pequena folhada dormindo delicadamente no chão.