Suspiro

Aqui estou eu, em mais uma noite na qual o próximo suspiro não faz sentido algum, mergulhado na dor física, mental, espiritual, filha da puta companheira... Minhas mãos tremem e meu estômago embrulha só de pensar nos próximos dias, procuro não pensar, meus pensamentos sangram arranhados pelas garras da realidade. Tudo poderia ser muito melhor se eu deixasse aquela figura medíocre que vive em meu peito sair e viver uma vida normal, cheia de futilidades. Às vezes eu o liberto, quando estou cansado, mas este asno trata de tentar se misturar à sociedade, se “enturmar”, às vezes conhece uma boa mulher, mas eu o trago de volta, não quero machucá-lo, pois uma puta e um pouco de álcool são menos trabalhosos e tomam menos tempo. Tempo! São 22 horas e está na hora do meu remédio, olho para a escrivaninha e a caixa com os comprimidos está ao lado de uma garrafa de conhaque barato e um copo sujo, eu juro que não sei qual é o pior, talvez eu reflita mais um pouco neste quarto isolado onde fico sem vontade, sem força, sem deus, sem nada. Sinceramente não sei o que fazer. Talvez eu continue aqui, parado, talvez tentando encontrar um sentido, um sentido para o próximo suspiro...