CREIO EM MILAGRES...

02 de maio de 1975.

São 18h45min! Caminhando estou pelo corredor

que me leva ao ambulatório do serviço médico,

da Emergência do INAMPS.

Estou ainda abotoando o jaleco,

adentrando ao meu plantão,

como enfermeiro das próximas 12 horas.

Ouço gritos de terror, forma-se um pequeno tumulto,

é a chegada de uma paciente psicótica em surto.

Recebo ordens do médico plantonista, Dr.Jeorje,

Ministro as injeções por ele prescritas

sem obtermos resultado satisfatório.

Por fim, ele ordena a transferência

para uma das Casas de tratamento de doentes mentais,

em Bebedouro.

Preenchido as rotinas oficiais, faz-se à ambulância a equipe suporte,

e como enfermeiro compete-me a liderança.

Forma-se a lotação:

Rufino (motorista), Jatanael (enfermeiro), Antonio Paulino (auxiliar do serviço), a paciente, o esposo, um filho e um vizinho que ajuda na contenção.

Saindo do Serviço, subimos a Rua Pedro Monteiro, Dias Cabral, Augusta e por fim a João Pessoa (Rua do Sol).

A ambulância é uma potente e segura chevrolet Veraneio.

No cruzamento com a ladeira dos Martírios, somos abalroados por um fusca que desce, que nos bate em cheio do lado direito, alcançando-nos na segunda porta.

Neste momento, chove fininho, creio eu que fusca está todo fechado

e não ouviu a sirene de preferência, da ambulância, veículo de socorro..

Não houve excesso de velocidade, imperícia, imprudência, descaso,

somente causalidade e o contexto (...neste mundo tereis aflições).

Menos ou mais um minuto o acidente não teria acontecido.

No rodopio do nosso carro, a segunda porta trava e a primeira se abre,

projetando Antonio Paulino ao calçamento.

Com perícia e com o instinto de auto-preservação, Rufino, consegue desviar a ambulância e a passar sobre o passeio público,

entre o porte da alta tensão e o posto de gasolina,

espaço bem apertado existente na esquina da praça,

à esquerda e a frente, evitando maiores danos,

e terminando pendurado, pelas rodas traseiras,

na diferença de nível entre o piso da rua do sol e o piso da praça dos martírios.

De imediato à saída de Paulino, sou projetado, batendo com o rosto e todo o corpo na base de cimento da bomba que abastece combustíveis.

Esmago o rosto, dos olhos para baixo,

perdendo já neste momento o olho direito perfurado pelos ossos da face.

Acontece um afundamento completo do rosto, outras mutilações,

ocorrendo em perdas definitivas: astrálago do pé direito, até hoje claudicante, septo nasal, seios da face, véu palatino, partes da arcada dentária e ... os sonhos de uma vida jovem de grande empenho e esperanças, busca constante de dias melhores e de sucesso profissional, cavada e buscada com lutas, persistências, crenças vivida em mim, nos meus e em meu Deus.

Oh Senhor! Mesmo assim e nestas circunstâncias, não posso perder a fé, proclamo de Ti ( - Rufino tenha calma, confie em Deus!) e clamo a Ti ( - Senhor, tens misericórdia de mim e dos meus!).

Estava desfigurado e sangrava muito,

Muitas são as dores, em nenhum momento perco a consciência,

lembro de tudo e de todos os meus, suas dependências

e aos que se aproximam traço o plano de socorro, buscando Samuel e Nazaré e já consciente são as perdas, mas, creio em Ti e em Teu Senhorio.

Jatanael Moreira e Silva (in memoriam)
Enviado por Jatanael Moreira e Silva (in memoriam) em 12/09/2011
Código do texto: T3215127