Olá pequeno .

Faz tempo que nãos nos falamos, não é? Tudo bem, não importa. Não importa quanto tempo faz. Sabe o que é importante pra mim? Seus sorrisos. E eu sei que eles fugiram. Pequeno, eu prometo que os buscaria para você, se eu não soubesse que a única pessoa que pode lhes trazê-los de volta não pode fazer isso. Ou melhor, pode. Mas vocês decidiram que seria melhor assim, e quem sou eu para dizer o contrário? Eu só posso ficar aqui no meu cantinho, lastimando não ter vocês no meu cantinho também. Lastimando não conseguir devolver os sorrisos que lhes foram arrancados sem motivos aparentes, e tão, tão, tão cedo. Porque você ainda tinha tantos sorrisos para sorrir com ela. Mas, me desculpe, não vou mais falar disso. A não ser que você queira. Mas eu sei que isso lhe faz chorar, e eu não quero suas lágrimas. Quero seus sorrisos. E, pode ser que eles demorem a voltar. Pode ser que eles não voltem mais com aquela intensidade, e que nem sejam mais por aquele motivo. Mas, ei, você sabe que eles vão voltar! Eu sei que você já passou por momentos difíceis, e embora esse pareça o mais impossível de todos eles, você tem que saber que ele também vai passar. Porque um dia as lágrimas vão se secar. E quando esse dia chegar, não vai ser porque você chorou tanto que não existem mais gotas para escorrerem pelos seus olhos. Esse dia vai chegar, porque você vai ter aprendido quão cruéis as lágrimas podem ser, se você não entender que elas não podem ser derramadas para sempre. Sabe, eu estou preocupada. Muito, na verdade. Preocupada com o seu hoje, com o seu amanhã, com o seu depois de amanhã. Mas, me conforta saber que você é forte. Eu sei que é, e você deve saber disso também. Porque, essa é só mais uma batalha da sua guerra. E a batalha pode ter sido perdida, mas ainda virão outras. Você pode recomeçar, mas precisa querer. Eu sei o quando dói ter que deixar para trás um passado que você gostaria que fosse não só o seu presente, mas também o seu futuro. Eu sei o quanto dói olhar para frente e não enxergar nada, porque o seu “tudo” está ficando para trás. Pequeno, eu sei como é ter que deixar quem amamos. Sabe o que eu também sei? Que isso não mata. Arranca pedaços, tira vontade, faz chorar, faz querer se trancar num quarto escuro e dormir -sim, dormir! Porque esse parece ser o único jeito de ter essa pessoa de volta, não é mesmo?-. Mas, não mata, não. Um dia você acorda! Ninguém dorme para sempre, até porque a vida é barulhenta demais e te força a acordar, caso você não faça isso por conta própria. Um dia, eu sei, você vai perceber que é melhor se levantar dessa cama aí. Essa cama de tristeza. Você vai se levantar, abrir os braços e espreguiçar-se. E nisso, vai aprender a deixar os sonhos na cama e seguir a vida com a realidade, por mais dolorosa que ela seja. Simplesmente, porque é essa a realidade! É esse o real, e é o real que você deve viver. E ele dói, Pequeno. Dói demais. Como eu queria que doesse em mim, ao invés de doer em você. Como eu queria!, você não faz ideia. Mas, ei! Eu prometo que você vai conseguir superar. Aguentar, se acostumar. Eu sei que você não vai abandonar as lembranças, até porque é impossível isso. Eu sei que você as guardará bem aconchegadas em uma caixinha no fundo da cabeça, quem sabe até do coração. E eu sei que, quando ninguém mais estiver olhando, você abrirá essa caixinha. Você se sentará em um canto qualquer, e eu sei que olhará, uma por uma, as fotos que na verdade nunca existiram. Sei que ouvirá mais uma vez aquela voz que te fazia sorrir. Sei que vai sorrir! E sabe qual vai ser o motivo desses sorrisos? Ela. Ainda será ela o motivo. Só que nessas horas, você sorrirá porque existiu um dia, e não porque existe. Mas a nossa vida é cheia disso, Pequeno. Cheia de “existiu”, cheia de “não volta mais”, cheia de “ah, como eu queria ter de volta!”. Mas a gente nunca tem. E talvez seja melhor assim. Talvez seja melhor ficar sem. Porque vai ser sempre assim, Pequeno. Sua vida será cheia de idas e vindas, chegadas e partidas, e você não conseguirá impedir isso. Você tem que saber receber com um “Olá” caloroso, e se despedir com a certeza de que você foi abençoado por ter aquela pessoa em sua vida. Porque embora todo mundo vá embora um dia, eles abadam deixando pedaços para trás. Pedaços esses que se tornam seus! Então, Pequeno, veja só! Ela é um pedaço seu. Você é um pedaço dela. E vai ser assim, para sempre. Porque embora a eternidade não tenha existido para vocês dois, ela vai existir para as lembranças. E, Pequeno, existe coisa melhor do que lembranças? É, elas machucam sim. Mas, sem elas, como você saberia que foi real? Pequeno, não queira que as lembranças sumam, não. Pois, elas vão ficar mesmo depois do fim. Afinal, lembranças não tem um fim. Sim, Pequeno, eu sei que elas te torturam. Mas, olhe pelo lado bom: elas nunca te deixarão esquecer do que foi -e será- por muito tempo o motivo dos seus sorrisos. Enfim, é isso, Pequeno. Me desculpe por não ter as palavras certas, e me desculpe ainda mais por não ser capaz de te ajudar. Mas, não se esqueça: você será a sua ajuda. Só basta querer. Só basta acreditar que, embora tenha terminado um capítulo, seu livro ainda vai te proporcionar muitas aventuras. E um joelho ralado não pode te impedir de levantar. E uma queda não pode ser motivo o suficiente para te fazer desistir de pular outra vez. Porque, Pequeno, não duvide nunca que num desses outros pulos você encontrará outra vez aquela Pequena que tanto tempo atrás te fez, por alguns instantes, pensar em desistir de pular outra vez.

Shirlei Pacheco de Moraes
Enviado por Shirlei Pacheco de Moraes em 08/09/2011
Código do texto: T3208688
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