Ruído das idéias
Às vezes eu tenho um título e não sei o que escrever.
O papel, em branco, acusa-me,
A caneta, parada, zomba de mim.
O relógio, correndo, sussura
Que da noite já é o fim,
E eu nem sequer pude beijar as estrelas.
Às vezes eu tenho uma idéia,
Mas junto dela há tanto barulho
Que não consigo escutá-la.
Ela deve brada, mas ao seu redor
Há uma imensidão de todas as coisas possíveis.
Então ela grita até morrer.
Às vezes tenho um amor,
E não posso declamar.
O amor mudo é o mais dolorido,
Este, em que o encantamento
Não se consegue expressar.
Às vezes eu tenho um sorriso e prefiro esquecer.
Tenho asas, mas prefiro não voar.
Então procuro você no silêncio.
Pode me pôr para adormecer?
Em seus braços eu finjo que sei exatamente
O que devo fazer.