RAIVOSA
Sim estou sozinha, com muita raiva.
Raiva disso tudo.
De ser eu, de ser você.
De não ser nada, ao menos amiga.
Raiva da falta de atitude, da prepotência,
da falta de autonomia ou o simples arbítrio.
Entendo que você quer demais, eu quero mais,
sempre quero mais, não consigo ser limitada.
O limite me da vertigem e olha que sou de virgem.
Na avidez do meu desejo por uma alma perdida,
que me encontre solitária,
que deseja-me assim como sou.
Mais fácil achar perolas nas conchas!
Também quero mais, mais quem me daria mais.
quem ofereceria um cruzado furado por mim.
Será que eu daria?
Será que você daria?
A raiva transmuta em solidão, dor aflição.
Rescaldo e muita consolação.
Uma alma raivosa e dolorida, pedindo você.
Me espera, que te espero na esquina.
Mais você não vem e fico mais raivosa.
Não obedeço ao contexto comum de um mero texto.
Texto este, que você um dia escreveu em minha homenagem,
Mais não concluiu, deixando uma vala.
Qual meu corpo repousou-se e encontra-se desde então.
E a alma segue essa linha, esperando uma luz da qual possa retornar em sua morada, corpo cansado e retalhado, roxo e flácido.
E a raiva soberba, fita o desejo que não lhe atende e simplesmente despreza sua necessidade.
Por mais que chore, as lagrimas não convecem e deixam um gosto de que um dia poderá encontrar o doce mel do amor.
Adrede escolhe sem saber, porque e por quanto, simplesmente escolhe.
Raivosa de mim, disso tudo, daquilo nada.
Daquele talvez, desse jamais, ou hoje não pode por ser normais.
"Eu me escondo em um segredo sem qualquer mistério."(Zé Ramalho)